quarta-feira, 28 de junho de 2017

Amós e a mensagem dos sicômoros

Judeu nas comemorações da Páscoa 2013 em Hebrom: " Louvado seja Deus em Israel"
Fotografia:israelnationalnews



Wilma Rejane

Israel vivia um período de grande prosperidade material. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres sendo oprimidos. O sistema judicial corrompido, luxuria e idolatria generalizados, contudo  a nação acreditava que Deus os abençoava por conta da expansão no comércio, das alianças politicas e vitórias militares. Estavam enganados. A abundância dos celeiros, não representava a alegria de Deus. O sorriso da nação necessitava ser voltado para os céus, para as coisas espirituais e para Iavé, aquele que os amava tanto e de tal forma, que havia providenciado um profeta para entregar-lhes mensagem de arrependimento. 

Era reinado de Uzias, um período que corresponde a 792-740 a. C (Judá) e Jeroboão II 793-753 a.C. (Israel). Judá e Israel precisavam ouvir,  encontrar o caminho de volta ao relacionamento sincero e profundo com Deus, afinal aquelas nações haviam sido escolhidas para dizer ao mundo: "Ao Senhor Seu Deus adorarás e somente a Ele servirá". Como poderia o espelho do mundo, está tão manchado de sangue, obscurecido pelas trevas constantes que se apresentavam perante eles, conduzindo-os no secreto dos corações, nos lugares altos e baixos do relevo palestino? Eles precisavam ser feridos, para despertar da ilusão do pecado!


E Deus envia Amós, um boiadeiro e cultivador de sicômoros, para ser o farol, o portador de Sua mensagem. E os reis se aterrorizam com o agricultor que recusava título de profeta, mas cujas palavras cortavam qual navalha afiada:

"Foge daqui Amós, não profetizarás mais em Bétel, porque aqui é o santuário do rei" Amós 7:13.

E Amós responde: " Não sou profeta, nem filho de profeta, mas boiadeiro e cultivador de sicômoros" Amós 7:14.

E essa fala de Amós, sempre mexeu comigo, porque ao reconhecer sua pequenez, ele se torna grande. Que mensageiro era esse? Retirado de detrás do rebanho, das copas das figueiras bravas, mãos calejadas e vestes puídas? Vai Amós, para o palácio dos reis, diz para eles que precisam obedecer a mim, tal qual os bois de tua boiada. Sim, essa gente farta e forte, precisa de um condutor, precisa aprumar as passadas, antes que eu os entregue ao matadouro. Vai  diz para esses nobres que eles não passam de figueira brava que só crescem e amadurecem ao serem feridos. Quanta profundidade nessa mensagem de Deus através de Amós!



Profeta fala, doa a quem doer. E hoje, não vivemos tempos tão diferente da época de Amós. As nações prosperam em inventos, ciência, comércio e as pessoas declinam em moral e relacionamento com Deus. Perseguem aqueles que falam firmemente contra as práticas de luxuria e outros pecados, e sempre há os tentam amenizar, tornar a mensagem dos profetas em algo amigável, em tempo de paz, quando o assunto é de intranquilidade. Mas para Deus não existe meio termo, ou é sim, ou não. O que Deus faz, através de Sua misericórdia e longanimidade é aguardar pacientemente que Sua mensagem seja ouvida e obedecida. Que os corações sejam convertidos pelo temor e amor ao Seu nome. Não nos enganemos tal qual Israel e Judá nos tempos de Amós.

As feridas dos Sicômoros.


Cultivador de sicômoros era Amós, o profeta também boiadeiro. Sicômoro é uma árvore de frutos semelhantes a figueira e folhas bem parecidas com parreiras. Podia ser encontrada em abundância pelas colinas de Israel:

"E fez o rei que em Jerusalém houvesse prata como pedras; e cedros em abundância como sicômoros que estão nas planícies." I Reis 10.27

Um aspecto interessante dessa figueira brava é que seus frutos precisam ser arranhados, cortados com algum instrumento pontiagudo para poderem crescer e amadurecer de modo que sirva para o consumo.  "O risco ou furo nos figos verdoengos do sicômoro provoca um acentuado aumento na emanação do gás etileno, o que acelera consideravelmente (de três a oito vezes) o crescimento e o amadurecimento do fruto. Isto é importante, visto que de outro modo o fruto não se desenvolve plenamente e continua duro, ou é estragado por vespas parasíticas que penetram no fruto e habitam nele para reprodução."

Sicômoros maduros


Essa mensagem,  Amós estava entregando a Judá e Israel, a mensagem dos sicômoros. A nação precisava ser ferida em sua vaidade para se tornar saudável e agradável. Quanta autoridade, quanta autenticidade na fala de Amós para os homens errantes, miúdos, verdoengos, sujeitos a vespas e parasitas. E essa mensagem serve para todos nós! A correção dói, obedecer ao Evangelho pode ser sofrido, doloroso, mas produz saúde em nós, crescimento! Todos precisamos de freio, de arrependimento, de renunciar as propostas do mundo, que se fazem presentes nas multidões. Precisamos  ficar a sós com Deus, buscar o silêncio contrastante aos numerosos passos humanos que seguem cegos os apelos desse século. Voltar, voltar a Deus, a cruz de Jesus!

Filho meu, não te esqueças da minha lei, e o teu coração guarde os meus mandamentos. Porque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos de vida e paz. Provérbios 3:1-2


Os sicômoros, lembremos deles. Em todo e qualquer tempo, porque Deus fala através do sofrimento, da dor e também da alegria (frutos saudáveis). É que Deus está em nosso cotidiano, a cada "risco" que nos faz derramar lágrimas, também crescer. Porque nada se conquista ou se perde sem aprendizado, mas que seja com Deus. Com  gratidão, reverência,  louvor. Com celeiros cheios ou vazios. Precisamos estar atentos, porque a prosperidade pode ser enganosa, mas a justiça de Deus é como o sol que jamais falha e ilumina os campos, após  noites frias e escuras E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? Lucas 18:7-8.

Amós era a voz de Deus incomodando o pecado, riscando os figos, redirecionando os bois. E essa comparação não é insulto, porque o próprio Deus diz em Amós que muitas mulheres daquela época, estavam tais quais "vacas de Basã", só buscavam riqueza e fartura. Que assim não seja conosco. Mas que tal qual os figos cortados e machucados, sigamos firmes, nas pisaduras dAquele que sofreu em nosso lugar. A mensagem de Amós é atual e precisa ser ouvida por todos nós. Prosperidade nem sempre é sinal de benção, nem resultado de compromisso com Deus. Oprimir os pobres e satisfazer os desejos pecaminosos da mente e do corpo, desagradam profundamente a Deus. Que sejamos sensíveis a voz de Deus que nos fala através de coisas, por vezes, tão comuns, que tendemos a menosprezar. Deus trata o pecado de forma individual e também de forma coletiva: "Bendita é a nação, cujo Deus é o Senhor" Salmo 33:12. E uma nação abençoada se faz com pessoas que procuram obedecer a Deus.

Deus o abençoe.



Deus das montanhas e vales




João Cruzué

Uma das canções mais bonitas que grupo Diante do Trono já compôs é: Lugares altos. Eu gosto de música cristã; ela sempre me inspirou, enfim, além de ter servido nas cordas em bandas (guitarra) por 14 anos na Igreja. Vi muita gente sendo batizada, renovada, falando em novas línguas pelo mover do Espírito Santo, presente nas notas de canções de adoração. Tenho certeza que o próprio Espírito Santo se alegra com boa música de louvor. A música alegra o Espírito e o Espírito alegra os adoradores na Casa do Senhor. Faz algum tempo que não escrevo; hoje, quero deixar alguns parágrafos sobre os outros versos do Salmo que o compositor do DT não colocou em "Lugares Altos".

No Salmo 18 está escrito: [O SENHOR] faz os meus pés como os da corça, e põe-me nas alturas. Imagino que a letra de "Lugares Altos", deve ter sido inspirada neste Salmo de Davi, que naquele tempo estava em primeiros anos no trono de Israel. O jovem Rei Davi olhou para trás e viu todas as lutas e perseguições que sofreu a partir daquele dia que matou o gigante Golias.

Quero dedicar este texto aos leitores que pararam aqui para uma leitura cética. Afinal, que coisa boa poderia sair de um blog de crente? Bom, sou um cristão que passou por 11 anos de desemprego. Casado. Duas filhas. E, que antes desses dias ruins, tinha razoável conforto. Ano, após ano, as coisas foram piorando. Não vão caber neste post as referências a tantas coisas privações que passei, as dores que senti e as palavras que ouvi durante todos aqueles anos. Hoje estou bem. Muitíssimo bem. Olhando para trás, eu também posso dizer que foi o Senhor que "Livrou-me do meu inimigo forte e dos que me aborreciam, pois eram mais poderosos do que eu".

Há quem esteja angustiado enquanto lê este texto, mas há, também, quem esteja muito angustiado; muitíssimo angustiado. Mas para ser colocado em lugares altos, em posição de grande honra, certamente devi estar no vale ou no fundo do poço. Causa e consequência.

Tenho lido testemunhos de pessoas que me escrevem contando sobre coisas terríveis. Vida sentimental destroçada, doenças terríveis, solidão, dívidas imensas, ingratidão, desprezo, lares abandonados, filhos nas drogas. Males de todos os tipos, formas e tamanhos. Eu também tenho experiência em ouvir as palavras da angústia, os gritos da dor, a fome de justiça e o silêncio da solidão. Mas para muitos de nós isto, na verdade, não acontece com o propósito de nos destruir, senão para nos preparar, nos humilhar, para que um dia o Senhor nos coloque em posição de honra, assentado em lugares altos.

Em tudo dai graças. I Tessalonicenses 5.18.

Se você ainda não é um crente em Jesus Cristo, aconselho que procure sê-lo, para que tenha as condições e ajuda necessária para alcançar vitórias em Cristo e se assentar em lugares altos. Se você já é cristão vai entender perfeitamente estas palavras. No tempo da angústia e das tribulações a gente ora. Ora. Ora muito, pois é tempo de orar. Mas outro tempo virá, quando você vai começar a agradecer pelas respostas - antes de ver a bênção chegar.

Os cristãos andam por fé. Não andam por vista. Além da dor, da solidão, da depressão, do abandono, da dívida, há um tempo de vitória preparado por Cristo. Você não pode se concentrar apenas nas desgraças, precisa parar um pouco, para pensar e sonhar com aquilo que você precisa. Mude sua forma de pensar; pense que o tempo do fundo do poço vai passar, e quando ele passar, e suas bênçãos chegarem, imagine você olhando para trás e dando graças a Deus.

Eu passei por isso. Eu fiz assim. Se assentar em cima das suas derrotas e começar a chorar, isto vai consumir todos os dias de sua vida. As derrotas são degraus que descem mesmo para o fundo. Se você olhar para baixo talvez veja o fundo do poço, mas os mesmos degraus que descem, também servem para a subida. Sua realidade lhe diz você está descendo ao poço, mas pela fé volte os olhos para cima, para enxergar o céu - onde é a morada do SENHOR.

Quando Davi estava há poucos anos no trono, ele ficou consciente da presença de Deus em sua vida desde o momento que recebeu a oração e a unção do profeta Samuel, passando pelos dias no vale e na caverna. Assentado em cima do trono de Israel, ele olhou para os dias de sua angústia, perseguição, desprezo, abandono dos amigos, e viu a misericórdia, a graça, a força do Senhor em sua vida. Imagino que mandou trazer a sua harpa, e escreveu:


"Eu te amarei do coração, ó SENHOR, fortaleza minha.

O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador;

o meu Deus, a minha fortaleza, em que confio;

o meu escudo, a força da minha salvação e o meu alto refúgio".


Hoje, ao ouvir esta bela canção do Diante do Trono falando dos "Lugares Altos", eu também olhei para trás e vi cada um dos 11 anos que estive desempregado. De 30 julho de 1992 a 14 julho de 2003. Mas agora eu os estou vendo de cima (como Davi) . Veja: eu passei em alguns concursos públicos. Entre outubro/2009 e abril/2010 deste ano, fui convidado e convocado para assumir três cargos; dois por concursos. Em dezembro de 2000, por falta de emprego, eu estava cultivando mandiocas no Vale do Rio Doce; capinando (ou carpindo) mandiocas sufocadas por carirus de espinho e brachiaria rusieneses; com nuvens mosquitos pólvora em volta das minhas orelhas. Meus pés pisavam o barro e eu muito triste com tanta erva daninha. Hoje, exatos 11 anos depois sou um dos auditores do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

Para se assentar em lugares altos, talvez seja preciso que você passe pelo vale ou desça até o fundo do poço. A bênção do Senhor é sempre maior do que você imagina. Você vai precisar de orar sempre, para vencer sua luta de cada dia. Você está matriculado na Universidade de JEOVÁ. Estas lutas são as disciplinas que você está aprendendo para se graduar na carreira da humildade. Quando você concluir o curso não vai mais dizer: tudo posso porque EU sou EU. Em lugar disso vai dizer: Tudo posso NAQUELE QUE me fortalece.

Se você leu este texto até o fim, muito provavelmente deve estar passando por algum tipo de dificuldade. Se isto é verdade, creia nestas simples palavras: quando mais fundo é o buraco, maior é a altura do "trono". Fique firme, ore sempre, Deus vai multiplicar algo na sua vida que tem passado despercebido para você. Mas você também precisa fazer a sua parte. Se é estudar - estude. Se é "plantar mandiocas" - plante. Se é fazer um concurso - compre apostilas. Alguma coisa você precisa estar fazendo, quando os olhos do Senhor descerem sobre você para admirar sua persistência.

Se até hoje você estava excluindo a possibilidade de uma virada em sua vida, prepare-se: quero deixar aqui, para você, a lembrança de um versículo muito especial: "Porque para Deus não há nada impossível."Lucas 1:37. Você sabia que comecei a escrever um blog só para contar meus testemunhos e bênçãos recebidas? Sim, para bendizer o Santo nome do Altíssimo, Soberano Criador e abençoador.


cruzue@gmail.com
Poderá também gos

Vida depois da morte

Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.(João 6.40) 

Esta passagem é uma promessa gloriosa para nós. Ela é repetida duas vezes porque podemos pensar: “Isso não faz muito sentido. É difícil acreditar nessas palavras”. 

Ninguém poderia prever que a fé seria tão importante até que Cristo disse: “Todo aquele que crer em mim terá vida eterna”

Jerônimo, Ambrósio e Cipriano creram em Cristo, porém foram executados. 

Como conciliamos isso com a promessa de vida eterna? 

Quando vemos como as pessoas que creem em Cristo são amaldiçoadas, condenadas, exiladas, até mesmo decapitadas e queimadas, é como ter um tapete puxado debaixo dos nossos pés. 

Não se permite que os cristãos vivam em paz. 

Essa promessa a respeito da vida eterna parece uma mentira para nós. 

Se isso é o que vida eterna significa – que alguém seja perseguido e assassinado –, então deixe que o Diabo tenha esse tipo de vida.

Mas a fé deve fechar os seus olhos e se recusar a julgar o que vê ou sente no mundo. 

Você não se torna ciente da vida eterna antes de Cristo levantá-lo dos mortos. 

Entretanto, a sua vida eterna está oculta na morte. Ela está oculta e fora da sua visão. 

Mas lembre-se de que, enquanto viver, e até quando estiver morrendo, você tem perdão. 

Se você sentir o peso do pecado esmagando-o, você ainda pode dizer: “Meus pecados estão perdoados”. 

Quando os seus pecados o assombrarem, corroerem e aterrorizarem, você pode olhar para Cristo, colocar a sua frágil fé nele e se segurar firmemente. 

Retirado de Somente a Fé - Um ano com Lutero. Editora Ultimato.

Por Litrazini
Graça e Paz

NA COMPANHIA DO PASTOR: Um olhar escatológico sobre o Salmo mais popular da Bíblia


     O livro dos Salmos é o maior dos 66 livros da Bíblia, contendo 150 Salmos. Por servirem de inspiração, a maioria dos leitores da Bíblia tem grande interesse por eles. As poesias e canções inseridas nesse livro têm animado pessoas de todas as épocas, além de atrair grandes escritores e pregadores, como Charles Spurgeon, que, entre 1882 e 1886, publicou sete volumes sobre os Salmos.

     Espelhando os procedimentos de Hermann Gunkel quanto ao método da crítica da forma, que analisa os salmos de acordo com suas formas, contexto e propósito no culto, Hans-Joaquim Kraus escreveu um comentário intituladoTeologia dos Salmos e destacou a necessidade de se focalizar especialmente as ações e a natureza de Deus. Embora os salmos sejam palavras humanas ditas a Deus, eles fazem parte da Bíblia, que é a Palavra de Deus.

     Em síntese, os Salmos são uma coletânea de orações e hinos inspirados hebraicos que oferecem conforto e esperança. Para os cristãos, provavelmente eles sejam a porção mais lida e apreciada do Antigo Testamento. Pela sua própria natureza, são hinos dirigidos a Deus e que expressam verdades com melodias acerca do Criador.

     Os Salmos têm diversos autores, sendo que 73 do total de 150 são de autoria davídica. Antes de se tornar rei de Israel, Davi foi pastor de ovelhas e, com bom conhecimento na área, escreveu uma analogia relacionando pastor de ovelhas com o Bom Pastor. Dentre os 73 Salmos escritos por ele, o Salmo do Pastor (23) tem sido o preferido de multidões.

     Embora o Salmo 23 seja muito apreciado, muitos não o compreendem na totalidade. A compreensão dessa querida obra literária depende não só da familiaridade do leitor com o estilo poético oriental dos salmos, o contexto da época em que foram escritos, mas também da familiaridade com as Sagradas Escrituras. Afinal, esse salmo pode ser lido por uma perspectiva escatológica e isso o conecta com outras partes e promessas da Bíblia.

     O Salmo está dividido em duas partes. A primeira, seguindo a analogia do cuidado de um pastor por suas ovelhas, representa Deus, ou mesmo Jesus, como Bom Pastor. As promessas dos versos de 1 a 4 podem ser vistas como se cumprindo na vida das ovelhas de Cristo aqui neste mundo, no tempo presente. Porém, mesmo com as promessas de provisões, proteção, segurança, direção e amor, as ovelhas ainda enfrentam momentos desagradáveis, tristezas e angústias terríveis. Até o retorno de Cristo as adversidades tendem a piorar.

     A segunda parte aponta para um tempo além das promessas do presente. A linguagem já não é comparativa, mas profética. Não mais existe a ideia de pastor e ovelhas. Prova disso é que a ovelha não senta junto a uma mesa, muito menos à frente de seus inimigos. A ovelha não recebia nenhum tipo de unção, nem mesmo tinha taça, e nenhuma ovelha morava dentro da casa do pastor (aliás, o texto não menciona a casa do pastor, mas o próprio Deus e Sua morada).

      Para Davi, unção significa mudança de vida e privilégios. De um simples adolescente que pastoreava ovelhas no campo, ele passou a ser rei após ter sido ungido com óleo (azeite). Nesse contexto, unção significa transformação. É deixar de ser mera ‘ovelha’, inocente, dependente e com visão curta, para se tornar rei juntamente com Cristo no Céu.

     Preparar uma mesa, tema que aparece no verso 5, significa ter alimento para comer na companhia de amigos. Quando Davi escreveu o Salmo 23, uma ceia numa mesa preparada era sinônimo da união de grupos e indivíduos. Sentar-se à mesa consolidava a lealdade e era sinal de segurança e alegria, uma verdadeira festa. No banquete escatológico, Jesus é o Rei que convida Seus súditos para a abundância de manjares.

      Por fim, a ovelha vai habitar em lugar especial (v. 6). Mas o texto não diz que é na casa do pastor, e sim na Casa do Senhor, no Céu. Após a recepção e a celebração da vitória sobre o pecado, os súditos do Rei Jesus serão conduzidos para as mansões preparadas por Ele mesmo!

      Em síntese, podemos atribuir perfeitamente o Salmo 23 a experiência de fé que o cristão fiel viverá antes e depois da segunda vinda de Cristo. Pois haverá um ‘vale da sombra da morte’, mas o grande Pastor se levantará para proteger e guiar Suas ovelhas.

O Salmo 23 pode ser lido por uma perspectiva de vida futura ao lado do grande Pastor e isso o conecta com outras partes e promessas da Bíblia.

Pr. Heber Toth Armí
Artigo publicado na Revista Adventista de junho de 2017


domingo, 25 de junho de 2017

01 – INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA


3º Trimestre/2017

Texto Base: 2Timóteo 3:14-17 

"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2Pd.1:21).

 INTRODUÇÃO

Mais um trimestre letivo se inicia. Estudaremos as principais doutrinas da fé cristã. E nesta primeira Aula, trataremos da inspiração divina e autoridade das Escrituras Sagradas, que são a verdade, a expressão do próprio Deus. As Escrituras Sagradas não são fruto da lucubração humana, mas da revelação divina. Elas não provêm da descoberta humana, mas do sopro divino. Toda a autoridade das Escrituras depende exclusivamente da sua origem divina. As Esculturas surgiram na mente de Deus e foram comunicadas pela boca de Deus, pelo sopro de Deus ou pelo seu Espirito Santo. As Escrituras são, pois, no verdadeiro sentido do termo, a Palavra de Deus, porque Deus as disse. É como os profetas costumavam anunciar: “a boca do Senhor o disse” (Is.1:20).

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela mesma assim se define e o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens. Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra essa Palavra, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humana, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus. Sua inspiração divina e sua soberania como única regra de fé e prática para a nossa vida constituem a doutrina basilar da fé cristã.

I. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

A Bíblia foi dada por Deus através de inspiração e revelação, à medida que o Espírito Santo operou em homens escolhidos, revelando a eles os pensamentos de Deus e capacitando-os a usar as palavras adequadas para comunicar a verdade divina sem erros.

1. Revelação. Um dos princípios da Teologia é o fato de Deus não nos ter criado e deixado largados para viver em um mundo sujeito às regras do pecado, mas ter nos confiado um manual que revela a sua vontade, a Bíblia. Daí advém o que chamamos de revelação, o ato de tornar conhecido o que antes não o era. Esta Revelação, a Bíblia Sagrada, nos foi entregue, a fim de que reconheçamos a Deus como o ser Supremo por excelência e a seu Filho Unigênito como o nosso Salvador.

2. Inspiração. É o registro dessa revelação sob a influência do Espírito Santo, que penetra até as profundezas de Deus (1Co.2:10-13). Os 66 Livros da Bíblia são divinamente inspirados. Os escritores do Antigo Testamento estavam conscientes de que o que disseram ao povo e o que escreveram é a Palavra de Deus (ver Dt.18:18; 2Sm.23:2; 2Pd.1:21). Repetidamente os profetas iniciavam suas mensagens com a expressão: “Assim diz o Senhor”. Esta expressão ocorre mais de 2.600 vezes. O Espírito Santo falou por intermédio dos autores - “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca” (2Sm.23:2). Jesus também ensinou que a Escritura é a inspirada Palavra de Deus até em seus mínimos detalhes (Mt.5:18). Afirmou, também, que tudo quanto Ele disse foi recebido da parte do Pai e é verdadeiro (João 5:19, 30,31; 7:16; 8:26).

É bom fazer uma distinção entre o texto inspirado e o registro inspirado. Assim, declarações mentirosas como as de Ananias e Safira, as declarações de Satanás não foram inspiradas por Deus, mas sim o seu registro. Tais textos foram incluídos na Bíblia, para que conheçamos os ardis de Satanás, os pensamentos dos ímpios. Sabemos que uma das características da Bíblia é a sua imparcialidade, assim, ela não omite as mentiras, as falsidades ditas por alguém.

3. A forma de comunicação. Existem duas formas principais de comunicação entre Deus e o homem: verbal e escrita. Verbal até Moisés e depois, segundo alguns teólogos, usando a instrumentalidade do homem mais manso da terra passou a ser escrita.

a) A transmissão verbal. As palavras do Criador para a humanidade foram passadas no início de forma falada. Deus em contato pessoal com o homem colocava as suas leis e este era o responsável em passá-la para a posteridade. Com o passar dos anos a corrupção generalizou-se na sociedade pré-noêmica e as distorções fatalmente seriam inseridas na história se não fosse o dilúvio que levou à morte toda aquela geração, excetuando-se a família do patriarca Noé que, pela Graça de Deus, conservou a história para ser outra vez disseminada entre seus descendentes.

Com o aparecimento das línguas (Gn.11:7) e a dispersão do povo (Gn.11:8), a história corria sério risco de ser perdida, então Deus chama a Abraão e põe nele a sua Palavra de forma mais clara e objetiva. Nesse ponto o patriarca tem a história passada pelos seus ancestrais juntamente com as palavras de orientação e proféticas do Todo-Poderoso. A Palavra de Deus continuou sendo transmitida oralmente até Moisés.

b) A transmissão escrita. Embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia foi escrita e redigida por seres humanos (2Pd.1:21) que, para escrevê-la, usaram de todos os materiais que tinham à sua disposição para tanto, lembrando-se, aliás, que, no tempo da formação dos escritos sagrados, não havia o papel, material que o Oriente Médio e o Ocidente somente conheceram num tempo posterior à elaboração das Escrituras, elaboração esta, aliás, que durou mais de mil e quinhentos anos, que é o tempo que vai de Moisés ou Jó, apontados como os autores do livro de Jó, que é o livro mais antigo das Escrituras, até a redação dos livros do apóstolo João, que são considerados os últimos escritos inspirados da Bíblia Sagrada.

É interessante notar que Deus não escreveu parte nenhuma da Bíblia. As Escrituras registram que Deus havia escrito as primeiras tábuas da Lei (Ex.32:15), mas foram quebradas por Moisés, indignado por causa da corrupção do povo no episódio do bezerro de ouro (Ex.32:19). As segundas tábuas, embora lavradas por Moisés, foram também escritas por Deus (Dt.10:1-4), mas estas tábuas foram colocadas na arca, ou seja, não puderam ser lidas pelo povo. Moisés escreveu o seu teor, nesta oportunidade, naquilo que viria a ser o Pentateuco (Ex.34:27), numa comprovação de que parte alguma das Escrituras foi feita pelo dedo de Deus.

O mesmo devemos dizer a respeito do Filho de Deus, ou seja, Jesus nada deixou escrito, mas tudo que transmitiu o fez oralmente, teor este que foi, posteriormente, lembrado pelo Espírito Santo para que pudesse ser reduzido a escrito (1Co.11:23; 2Pd.1:18-21; 1João 1:1,3). Vemos, pois, que, embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia não foi escrita, em momento algum, por Deus, que delegou, pois, tal tarefa para o homem. A Bíblia foi inspirada por Deus; a palavra grega “theopneustos” significa literalmente “soprada por Deus”, porém, isso não quer dizer que Deus anulou a personalidade, o estilo ou a preparação de seus escritores, uma vez que esses homens santos “falaram movidos pelo Espirito Santo” (2Pd.1:21).

Deus quis, portanto, que a Bíblia fosse escrita pelos homens, embora se tratasse da própria Palavra do Senhor, para que as Escrituras fossem, elas mesmas, a demonstração da comunhão que se pretendeu restabelecer entre Deus e o homem. Esta comunhão, que, em Jesus, estava evidenciada pela dupla natureza, é um dos aspectos pelos quais as Escrituras são consideradas testemunhas do próprio Verbo Divino (João 5:39). Assim, pois, como Jesus é homem e é Deus, as Escrituras também são Palavra de Deus, mas escrita pelos homens.

4. Inspiração, Revelação e Iluminação. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus, mas nem tudo nela é produto de revelação. A revelação implica em Deus mostrar fatos desconhecidos ao escritor sacro enquanto que na inspiração isto não se faz necessário. Por exemplo: Moisés recebeu os primeiros capítulos de Gênesis por revelação enquanto outros não foram necessário produto de revelação. Lucas foi inspirado a reunir vários documentos cristãos precedentes para confeccionar seus dois livros, o Evangelho e o livro de Atos (Lc.1:1-4). Paulo que não andou com Cristo e nem recebeu instrução apostólica deixou-nos um tesouro teológico de inestimável grandeza em suas epistolas. Enquanto Lucas foi inspirado a escrever, a Paulo foi revelado o que escrever.

Quanto à Iluminação, tem a ver com a compreensão da mensagem revelada. Em 1Pd.1:10-12 está um ótimo exemplo do que significa a iluminação: "Desta salvação inquiriram e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos era destinada, indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam. Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho. Coisas para as quais até os anjos desejam atentar".

Portanto, a Inspiração tem a ver com a recepção e o registro da verdade; a Revelação tem a ver com a transmissão e; a Iluminação é a compreensão desta mesma mensagem. Neste caso, os profetas recebiam a Revelação e a Inspiração, mas muitas delas não eram acompanhadas de Iluminação.

II. A INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA

1. A inspiração divina. “Inspiração” vem do latim, que significa “respirar para dentro” (in e spiro) e de uma forma grega que significa “expirado por Deus” (theopneustos). Deus colocou o Espírito Santo nos escritores da Bíblia e, através dEle, os guiou na redação da Bíblia. Por isso, a “inspiração” pode ser definida como o processo pelo qual Deus expirou o Seu Espírito em homens, capacitando-os a receber e comunicar a verdade divina sem erro. A Bíblia é Deus falando. Os escritores da Bíblia escreveram sobre fatos que eles conheciam tanto quanto sobre fatos que eles não conheceriam sem a inspiração. Os fatos conhecidos sobre os quais eles escreveram chegaram a eles por observação pessoal, documentos existentes ou tradição oral. Muito do que foi escrito por esses homens chegou ao conhecimento deles pela primeira vez através da revelação de Deus. Quer estivessem escrevendo fatos conhecidos, quer revelação, a inspiração os guiou a informarem somente a verdade, sem erros de comunicação (Hugo Mccord).

Mattew Henry, um dos maiores expositores das Sagradas Escrituras, é categórico ao referir-se à inspiração da Bíblia: “As palavras das Escrituras devem ser consideradas palavras do Espírito Santo”. Como não concordar com Henry? Basta ler a Bíblia para sentir, logo em suas palavras iniciais, a presença do Espírito Santo. Paulo afirma: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). Aqui, o termo “Escritura” refere-se principalmente aos escritos do Antigo Testamento (2Tm.3:15). Mas é importante destacar que toda a Escritura, e não apenas parte dela, é inspirada por Deus. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento compõem as Escrituras (cf. 2Tm.3:14; 2Tm.5:18; 1Co.2:13; 2Co.2:17; 13:3; Gl.4:14; Cl.4:16; 1Ts.2:13; 5:27; 2Pd.3:16).

Muitos liberais aproximam-se das Escrituras carregados de ceticismo e contestando toda inspiração, inerrância e infalibilidade. Há aqueles que, enganosamente, afirmam que as Escrituras apenas contêm a Palavra de Deus, mas não são a Palavra de Deus. Outros negam sua historicidade e tentam, jeitosamente, explicar seus registros históricos e seus milagres de forma metafórica. Todavia, permanece a verdade inabalável de que toda a Escritura é inspirada por Deus, é a própria Palavra de Deus.

2. Autoridade da Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus, porque tem origem em Deus; seu conteúdo foi comunicado por Deus aos homens santos escolhidos pelo Senhor para reduzi-la a escrito. O selo dessa autoridade aparece em expressões como "assim diz o SENHOR" (Êx.5:1; Is.7:7); "veio a palavra do SENHOR" (Jr.1:2); "está escrito" (Mc.1:2). Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, ou seja, deve ser aceita pelo homem como única regra de fé e de prática, ou seja, o ser humano, se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que a Bíblia determina.

Sendo a Palavra de Deus e a fiel comunicação da vontade divina aos homens, não há, mesmo, como deixar de observar o que é prescrito pelas Escrituras, nem deixar de crer naquilo que ela nos diz. No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo que se diz de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um servo do Senhor. Ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade das Escrituras foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras é atentado contra o próprio Deus. São diversos os exemplos, mas citemos apenas alguns a título de ilustração:

a) Saul, o primeiro rei de Israel, foi rejeitado por Deus porque preferiu sacrificar a obedecer à Palavra do Senhor (1Sm.13:8-14).

b) Davi, mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, viu transformar-se em tragédia uma festividade que realizou para levar a arca de Deus para Jerusalém, por não ter atentado à lei do Senhor (2Sm.6:3-9; 2Cr.15:1-3).

c) O povo do reino de Israel, o reino das dez tribos do Norte, perdeu a sua terra e a sua identidade, até o dia de hoje, porque rejeitou o conhecimento de Deus, ou seja, a observância da Sua Palavra (2Rs.17:7-23).

d) O povo do reino de Judá, o reino das duas tribos do Sul, perdeu a sua terra, que descansou durante setenta anos, por não ter cumprido a determinação do ano sabático (2Cr.36:21,22).

e) Os saduceus são apontados por Jesus como pessoas que viviam erradamente sob o ponto-de-vista espiritual por não conhecerem as Escrituras, ou seja, não a observarem, erro este que levou à total destruição deste partido judeu quando da destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C. e a derrota definitiva para os romanos no ano 135 d.C. (Mt.22:29; Mc.12:24; Mc.12:27).

Apesar destes exemplos bíblicos, não foram nem são poucos os que se encontram na mesma e triste lamentável situação dos saduceus, errando por não conhecerem as Escrituras e lhes negando autoridade, embora se digam, como o faziam os saduceus, “defensores intransigentes das Escrituras” e isto porque, assim como os saduceus, embora afirmem prestigiar o texto sagrado e reconhecer-lhe a autoridade, diminuíam-no na prática de seus atos. Os saduceus, por exemplo, somente criam nos cinco livros da lei, desprezando todas as demais Escrituras, como se elas não fossem igualmente inspiradas por Deus. De igual modo, os “modernos saduceus” promovem muitos erros porque não aceitam a autoridade da Bíblia Sagrada.

III. INSPIRAÇÃO PLENA E VERBAL

A correta doutrina bíblica a respeito da inspiração é: inspiração verbal e plenária. Pedro enfatiza que as Escrituras são provenientes de Deus, e não de seres humanos; são divinamente inspiradas. Os escritores bíblicos não redigiram uma combinação de suas próprias ideias; o texto resultante não é proveniente de imaginação, discernimento ou especulação humana. O apóstolo Pedro, em sua segunda Epístola assim afirmou: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”(2Pd.1:21). Na verdade, homens santos de Deus falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Apesar de não compreendermos plenamente como se deu o processo, Deus dirigiu cada palavra que esses homens escreveram. Ao mesmo tempo, contudo, Deus não destruiu a individualidade ou o estilo dos escritores. Em tempos como os nossos, nos quais tantas pessoas negam a autoridade da Bíblia Sagrada, é importante termos convicção da inspiração verbal e plenária das Escrituras Sagradas.

1. Inspiração verbal. A inspiração verbal indica que as palavras redigidas por pelo menos quarenta escritores humanos foram inspiradas por Deus – “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (cf.1Co.2:13). O mesmo se refere ao texto bíblico do Antigo Testamento – “E Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR, e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel” (Ex.24:4). Deus não deu um esboço geral ou algumas ideias básicas e depois permitiu que os escritores as expressassem como lhes parecesse melhor. As próprias palavras que usaram foram dadas pelo Espírito Santo.

Não resta dúvida de que muitos escritores da Bíblia reduziram a escrito mensagens que lhes foram dadas verbalmente por Deus, como é exemplo os Dez Mandamentos e boa parte daquilo que foi escrito por Moisés na lei. No entanto, temos de entender que Deus opera além de quaisquer limites humanos ou que nossa compreensão possa atingir, de forma que temos de, neste ponto, fazer coro ao seguinte pensamento de R.N. Champlin, que reproduzimos: “…a inspiração, normalmente, é verbal, visto que diz respeito à comunicação da verdade em linguagem humana. Isso não significa, entretanto, que consiste em mero ditado de palavras, mas significa que os diversos processos que jazem por detrás da questão, envolvendo aspectos como a individualidade dos escritores, o meio ambiente, o treinamento, as experiências deles, além de outros fatores, foram de tal modo manipulados por Deus que o resultado foi que as palavras registradas não são apenas do homem, mas são plenamente de Deus…” (CHAMPLIN, R.N. Escrituras. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.475).

2. Inspiração plenária. A inspiração plenária indica que a Bíblia toda foi igualmente inspirada por Deus, desde Gênesis até Apocalipse. O apóstolo Paulo afirmou: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm3:16). Toda Escritura é divinamente inspirada se refere à Bíblia completa, aos 66livros do Antigo e Novo Testamento. Até os mínimos detalhes foram colocados na Bíblia sob inspiração divina - “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” (Mt.5:16).

Em 2Pd.1:20,21 está escrito: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”. Pedro aqui atesta que as Escrituras não podem ser de “particular interpretação”, ou seja, que os textos bíblicos não podem ser entendidos isoladamente, mas como parte de um conjunto, pois, embora tenham sido escritos por homens de diferentes culturas, de diferentes épocas, de diferentes classes sociais, de diferentes graus de instrução, o resultado não é fruto da cultura, da história, da época, da posição social nem tampouco da erudição de cada um dos escritores, mas tão somente obra do Espírito Santo, que é o mesmo a ter agido na vida de cada um destes “homens santos de Deus”. Portanto, a Bíblia toda, sem qualquer exceção, foi inspirada pelo Espírito Santo, ou seja, as Escrituras foram geradas pelo próprio Deus que deu a mensagem a cada um dos escritores, que, fielmente, reduziram a escrito a mensagem recebida.

Negar a inspiração plenária das Sagradas Escrituras, portanto, é desprezar o testemunho fundamental de Jesus Cristo (Mt.5:18; 15:3-6; Lc.16:17; 24:25-27, 44,45; João 10:35), do Espírito Santo (João 15:26; 16:13; 1Co.2:12-13; 1Tm.4:1) e dos apóstolos (2Pd.1:20,21).

IV. ÚNICA REGRA INFALÍVEL DE FÉ E PRÁTICA

1. Proveitosa para ensinar. “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar...” (2Tm.3:16,17). As Escrituras Sagradas são essencialmente o manual da salvação, pois elas "podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2Tm.3:15). As Escrituras são ensinos espirituais que não se encontram em nenhum lugar do mundo. Seu propósito mais alto não é ensinar fatos da ciência que o homem pode descobrir por sua investigação experimental, mas ensinar fatos da salvação que nenhuma exploração humana pode descobrir e somente Deus pode revelar. As Escrituras falam sobre a criação e a queda. Ensinam sobre o juízo de Deus e também de seu amor redentor. Alguém disse que a Escritura é pastoralmente útil para o ensino, isto é, como fonte positiva de doutrina cristã; para repreensão, isto é, para refutar o erro e para repreender o pecado; para a correção, isto é, para convencer os mal-orientados dos seus erros e colocá-los no caminho certo outra vez; e para a educação na justiça, isto é, para a educação construtiva na vida cristã. Como bem diz o Pr. Esequias Soares, a Bíblia revela os mistérios do passado como a criação, os do futuro como a vinda de Jesus, os decretos eternos de Deus, os segredos do coração humano e as coisas profundas de Deus (Gn.2:1-4; Is.46:10; Lc.21:25-28).

2. A conduta humana. Como Criador, Deus nos concedeu uma espécie de "manual do fabricante", que é a Sua Palavra. Está escrito que “toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para...redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). A Palavra de Deus é aplicável na vida diária, na família, na igreja, no trabalho e na sociedade. Somente Deus, o nosso Criador, nos conhece e sabe o que é bom para suas criaturas. Suas orientações estão na Bíblia, o "manual do fabricante". Portanto, não devemos tomar a Bíblia como um livro comum, apenas para trazer-nos algum conhecimento em nossa mente, mas devemos tomá-la, como um Livro de vida, contatando o Senhor Jesus, através da oração, para que Ele nos conceda algo vivo em sua palavra, ou seja, algo que traga uma lição prática para o nosso viver no dia a dia.

3. As traduções da Bíblia. Temos de entender que a inerrância e a infalibilidade estão relacionadas diretamente com a inspiração das Escrituras e, portanto, dizem respeito à mensagem originariamente transmitida aos homens inspirados pelo Espírito Santo e que foram sendo copiadas e transmitidas geração após geração. Não nos esqueçamos de que a cópia de um texto é algo feito pelo homem, e um homem que não está sob a inspiração verbal plenária, e que, por isso mesmo, neste ato de copiar não estão envolvidos os conceitos de inerrância nem de infalibilidade.

Com relação à tradução bíblica, também, é outro fator que não está sob o império da inerrância e da infalibilidade da Bíblia. Aqui, também, não temos a atuação da “inspiração verbal plenária” e, portanto, tais atividades podem ter erros ou equívocos, como também necessitam, de tempos em tempos, de revisões e atualizações, pois são ações humanas e, como tal, sujeitas ao tempo e ao espaço. A primeira versão da Bíblia Sagrada em língua portuguesa a ser levada para a imprensa, a de João Ferreira de Almeida, que continha o Novo Testamento, ainda antes de ter sido lançada, teve, pelo próprio tradutor apontados cerca de 1.000 erros de tradução. Aliás, é por isso que esta Versão, após terem sido feitas as correções, é conhecida como Almeida Revista e Corrigida, ou seja, foi objeto de uma correção e, se foi corrigida, é porque continha erros. Na década de 1940, a Sociedade Bíblica do Brasil efetuou uma atualização desta Versão que, feita no século XVII, se encontrava extremamente defasada e era de difícil compreensão da população da metade do século XX, surgindo, então, a Versão Almeida Revista e Atualizada. Tudo isto é possível e até necessário porque versões e traduções são obras humanas, feitas segundo a vontade de Deus, no sentido da tarefa da Igreja, mas sem a “inerrância e infalibilidade”.

É bom enfatizar que a autoridade e as instruções das Escrituras valem para todas as línguas em que elas forem traduzidas. É vontade de Deus que todos os povos, tribos, línguas e nações conheçam sua Palavra (Mt.28:19; At.1:8).

CONCLUSÃO

A Bíblia é inspirada por Deus e fornece evidências plausíveis desse fato para aqueles que estão dispostos a investigar; é a única revelação escrita de Deus para toda a humanidade. Ela sobreviveu para contar sua mensagem de Cristo e da salvação de geração a geração. Não esqueçamos que a Palavra de Deus é: (a) leite que nutre – “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (I Pedro 2:2); (b) água que limpa – “tendo-a purificado por meio da lavagem e da água pela palavra” (Ef.5:26); (c) espada para as lutas – “Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef.6:17); (d) mel que deleita – “os juízos do Senhor são verdadeiros e igualmente justos,... são mais doces do que o mel e o destilar dos favos” (Salmo 19:10); (e) fogo e martelo – “Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?” (Jr.23:29); (f) restaura a alma - “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos” (Salmo 19:7,8).

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 71. CPAD.
Pr. Esequias Soares. A Razão de nossa Fé. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A Bíblia, a Inspirada e Inerrante Palavra de Deus PortalEBD_2006.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A Bíblia é a Palavra de Deus. PortalEBD_2008.