Rei Saul - Biografia
Saul, filho de Quis é o primeiro rei de Israel, é uma das figuras mais enigmáticas da Bíblia. Sua história, registrada em 1 Samuel 9 a 31, fez com que alguns estudiosos levantassem questões sobre a justiça e a bondade de Deus e do seu porta-voz, o profeta Samuel. Além disso, muitos eruditos expressaram dúvidas quanto à coerência lógica e literária das narrativas em que a carreira é descrita. Tudo isso criou um desânimo geral para se descobrir a verdade sobre Saul, pois as narrativas, que não foram contadas coerentemente, dificilmente oferecerão uma autêntica base. Estudos recentes, contudo, ajudam a resolver algumas dessas questões teológicas, literárias e históricas, conforme veremos a seguir.
Saul, cujo nome soa como "aquele pedido", é mencionado pela primeira vez em 1 Samuel 9. 1,2, embora alguns comentaristas afirmem que detectaram sua presença velada bem antes disso. Desde que o verbo hebraico "pedir por" aparece repetidamente na história de Samuel (1 Sm 1), alguns eruditos supõem que a narrativa do nascimento deste profeta na verdade é uma reconstituição de um registro original da vida de Saul. Uma hipótese mais provável, entretanto, é que o escritor bíblico talvez tenha enfatizado a raiz "pedir por" na narrativa do nascimento de Samuel simplesmente para prefigurar o papel significativo que mais tarde Saul desempenharia no livro e talvez para antecipar o fato de que Samuel, aquele que foi "pedido a Deus" por Ana, uma mulher íntegra (1 Sm 2.20, 27,28), estaria diretamente envolvido na ascensão e queda de Saul, o que foi"pedido" pelos líderes da nação pecadora de Israel (1 Sm 8.4-9; 10.17-19).
Coerentemente com as omissões em sua apresentação, logo fica claro que Saul, embora tivesse uma aparência física excelente, era carente das qualidades espirituais necessárias para ser um rei bem-sucedido em Israel. O primeiro indicador de sua falta de qualificação foi seu repetido fracasso em obedecer à palavra do Senhor transmitida por Samuel. Frequentemente é observado que a função profética tornou-se mais específica com a instituição da monarquia em Israel. Quer dizer, de forma distinta da situação no livro de Juízes, quando Gideão, por exemplo, recebeu as instruções divinas e as cumpriu (Jz 6 a 8), com a monarquia houve uma divisão de responsabilidades, sendo as instruções muitas vezes transmitidas ao rei por um profeta, o governante, então, em obediência ao profeta, cumpria a instrução. Sob tal arranjo, é claro, era extremamente importante que o rei obedecesse ao homem de Deus, para que o governo divino (isto é, a teocracia) fosse mantido. Isso, entretanto, conforme a Bíblia mostra, Saul fracassou em fazer.
Embora as ocasiões mais conhecidas da desobediência de Saul estejam em 1 Samuel 13 e 15, a primeira encontra-se em 1 Samuel 10. Quando Saul foi ungido por Samuel, três sinais foram dados como confirmação. De acordo com o texto, quando o último se cumprisse, Saul deveria "fazer o que a sua mão achasse para fazer" (de acordo com as palavras de Samuel em 1 Sm 10.7), depois do que (de acordo com a instrução adicional de Samuel em 1 Sm 10.8) deveria ir a Gilgal e aguardar novas ordens sobre a batalha contra os filisteus, que sua primeira ação certamente provocaria. Se Saul tivesse obedecido, teria demonstrado sua disposição para se submeter a uma "estrutura de autoridade teocrática" e confirmaria assim sua qualificação para ser rei. Também teria estado um passo mais próximo do trono, se seguisse o padrão dos três sinais: designação (por meio da unção), demonstração (por meio de um ato de heroísmo, isto é, "fazer o que sua mão achasse para fazer", 1 Sm 10.7) e finalmente a confirmação pelo povo e o profeta. Infelizmente, ao que parece Saul se desviou da responsabilidade de 1 Samuel 10.7 e, assim, precipitou o processo de sua ascensão. Embora sua vitória sobre os amonitas (1 Sm 11) fosse suficiente para satisfazer o povo e ocasionar a "renovação" de seu reinado (1 Sm 11.14), pelo tom do discurso de Samuel (1 Sm 12), é evidente que, pelo menos em sua mente, Saul ainda precisava passar por mais um teste.
Em 1 Samuel 13, Jônatas, e não Saul, fez o que o rei deveria ter feito, ao atacar a guarnição dos filisteus. Aparentemente, ao reconhecer que a tarefa de 1 Samuel 10.7 fora realizada, ainda que por Jônatas, Saul desceu imediatamente a Gilgal, de acordo com 1 Samuel 10.8, para esperar a chegada de Samuel. Como o profeta demorou muito, em sua ausência Saul tomou a iniciativa de oferecer os sacrifícios em preparação para a batalha, ao julgar que a situação militar não permitiria mais demora. Mas terminou de oficiar o holocausto, Samuel chegou. Depois de ouvir as justificativas de Saul, o profeta anunciou que o rei agira insensatamente, por isso seu reinado não duraria muito. Às vezes os comentaristas justificam ou pelo menos atenuam as ações de Saul e criticam a reação de Samuel como severa demais. Entretanto, à luz do significado da tarefa dada a Saul em 1 Samuel 10.7,8 como um teste para sua qualificação, tais interpretações são equivocadas.
Na ocasião da primeira rejeição de Saul e também na segunda (1 Sm 15), suas ações específicas de desobediência eram apenas sintomas da incapacidade fundamental para se submeter aos requisitos necessários para um reinado teocrático. Resumindo, eram sintomas da falta de verdadeira fé em Deus (1 Cr 10.13).
Depois de sua rejeição definitiva em 1 Samuel 15, Saul já não era mais o rei legítimo aos olhos de Deus (embora ainda permanecesse no trono por alguns anos) e o Senhor voltou sua atenção para outro personagem, ou seja, Davi. 1 Samuel 16 a 31 narra a desintegração emocional e psicológica de Saul, agravada pelo seu medo do filho de Jessé ( 1 Sm 18.29), pois pressentia que aquele era o escolhido de Deus para substituí-lo como rei (1 Sm 18.8;20.31). Depois de falhar em diversas tentativas de ceifar a vida de Davi, Saul finalmente tirou a sua própria. O novo rei em todo o tempo foi dirigido para o trono de forma providencial, às vezes indiretamente.
Embora não seja possível entrar em mais detalhes num artigo como este, pode-se observar que as narrativas sobre Saul, quando interpretadas dentro das linhas sugeridas anteriormente, fazem um bom sentido literal e teológico; isso, por sua vez, abre a porta para uma avaliação mais positiva de sua veracidade histórica.
Fonte de Estudos
. Bíblia de Estudo Arqueológica
Saul, cujo nome soa como "aquele pedido", é mencionado pela primeira vez em 1 Samuel 9. 1,2, embora alguns comentaristas afirmem que detectaram sua presença velada bem antes disso. Desde que o verbo hebraico "pedir por" aparece repetidamente na história de Samuel (1 Sm 1), alguns eruditos supõem que a narrativa do nascimento deste profeta na verdade é uma reconstituição de um registro original da vida de Saul. Uma hipótese mais provável, entretanto, é que o escritor bíblico talvez tenha enfatizado a raiz "pedir por" na narrativa do nascimento de Samuel simplesmente para prefigurar o papel significativo que mais tarde Saul desempenharia no livro e talvez para antecipar o fato de que Samuel, aquele que foi "pedido a Deus" por Ana, uma mulher íntegra (1 Sm 2.20, 27,28), estaria diretamente envolvido na ascensão e queda de Saul, o que foi"pedido" pelos líderes da nação pecadora de Israel (1 Sm 8.4-9; 10.17-19).
De qualquer maneira, a apresentação explícita de Saul encontra-se em 1 Samuel 9.1,2, onde é descrito como um belo exemplar de varão, alto e bonito. Embora frequentemente se suponha que nesse momento de sua vida ele era apenas um jovem tímido, a descrição de que "desde os ombros para cima sobressaía em altura a todo o povo" torna isso muito improvável. Também é bom notar que, apesar de ser positiva, essa primeira descrição de Saul focaliza exclusivamente as qualidades exteriores, em contraste, por exemplo, com a apresentação de Davi (1 Sm 16,18), que acrescenta às suas qualidades externas (boa aparência) o fato de que era "valente, sisudo em palavras" e, mais importante, que , "o Senhor era com ele".
Coerentemente com as omissões em sua apresentação, logo fica claro que Saul, embora tivesse uma aparência física excelente, era carente das qualidades espirituais necessárias para ser um rei bem-sucedido em Israel. O primeiro indicador de sua falta de qualificação foi seu repetido fracasso em obedecer à palavra do Senhor transmitida por Samuel. Frequentemente é observado que a função profética tornou-se mais específica com a instituição da monarquia em Israel. Quer dizer, de forma distinta da situação no livro de Juízes, quando Gideão, por exemplo, recebeu as instruções divinas e as cumpriu (Jz 6 a 8), com a monarquia houve uma divisão de responsabilidades, sendo as instruções muitas vezes transmitidas ao rei por um profeta, o governante, então, em obediência ao profeta, cumpria a instrução. Sob tal arranjo, é claro, era extremamente importante que o rei obedecesse ao homem de Deus, para que o governo divino (isto é, a teocracia) fosse mantido. Isso, entretanto, conforme a Bíblia mostra, Saul fracassou em fazer.
Embora as ocasiões mais conhecidas da desobediência de Saul estejam em 1 Samuel 13 e 15, a primeira encontra-se em 1 Samuel 10. Quando Saul foi ungido por Samuel, três sinais foram dados como confirmação. De acordo com o texto, quando o último se cumprisse, Saul deveria "fazer o que a sua mão achasse para fazer" (de acordo com as palavras de Samuel em 1 Sm 10.7), depois do que (de acordo com a instrução adicional de Samuel em 1 Sm 10.8) deveria ir a Gilgal e aguardar novas ordens sobre a batalha contra os filisteus, que sua primeira ação certamente provocaria. Se Saul tivesse obedecido, teria demonstrado sua disposição para se submeter a uma "estrutura de autoridade teocrática" e confirmaria assim sua qualificação para ser rei. Também teria estado um passo mais próximo do trono, se seguisse o padrão dos três sinais: designação (por meio da unção), demonstração (por meio de um ato de heroísmo, isto é, "fazer o que sua mão achasse para fazer", 1 Sm 10.7) e finalmente a confirmação pelo povo e o profeta. Infelizmente, ao que parece Saul se desviou da responsabilidade de 1 Samuel 10.7 e, assim, precipitou o processo de sua ascensão. Embora sua vitória sobre os amonitas (1 Sm 11) fosse suficiente para satisfazer o povo e ocasionar a "renovação" de seu reinado (1 Sm 11.14), pelo tom do discurso de Samuel (1 Sm 12), é evidente que, pelo menos em sua mente, Saul ainda precisava passar por mais um teste.
Em 1 Samuel 13, Jônatas, e não Saul, fez o que o rei deveria ter feito, ao atacar a guarnição dos filisteus. Aparentemente, ao reconhecer que a tarefa de 1 Samuel 10.7 fora realizada, ainda que por Jônatas, Saul desceu imediatamente a Gilgal, de acordo com 1 Samuel 10.8, para esperar a chegada de Samuel. Como o profeta demorou muito, em sua ausência Saul tomou a iniciativa de oferecer os sacrifícios em preparação para a batalha, ao julgar que a situação militar não permitiria mais demora. Mas terminou de oficiar o holocausto, Samuel chegou. Depois de ouvir as justificativas de Saul, o profeta anunciou que o rei agira insensatamente, por isso seu reinado não duraria muito. Às vezes os comentaristas justificam ou pelo menos atenuam as ações de Saul e criticam a reação de Samuel como severa demais. Entretanto, à luz do significado da tarefa dada a Saul em 1 Samuel 10.7,8 como um teste para sua qualificação, tais interpretações são equivocadas.
Na ocasião da primeira rejeição de Saul e também na segunda (1 Sm 15), suas ações específicas de desobediência eram apenas sintomas da incapacidade fundamental para se submeter aos requisitos necessários para um reinado teocrático. Resumindo, eram sintomas da falta de verdadeira fé em Deus (1 Cr 10.13).
Depois de sua rejeição definitiva em 1 Samuel 15, Saul já não era mais o rei legítimo aos olhos de Deus (embora ainda permanecesse no trono por alguns anos) e o Senhor voltou sua atenção para outro personagem, ou seja, Davi. 1 Samuel 16 a 31 narra a desintegração emocional e psicológica de Saul, agravada pelo seu medo do filho de Jessé ( 1 Sm 18.29), pois pressentia que aquele era o escolhido de Deus para substituí-lo como rei (1 Sm 18.8;20.31). Depois de falhar em diversas tentativas de ceifar a vida de Davi, Saul finalmente tirou a sua própria. O novo rei em todo o tempo foi dirigido para o trono de forma providencial, às vezes indiretamente.
Embora não seja possível entrar em mais detalhes num artigo como este, pode-se observar que as narrativas sobre Saul, quando interpretadas dentro das linhas sugeridas anteriormente, fazem um bom sentido literal e teológico; isso, por sua vez, abre a porta para uma avaliação mais positiva de sua veracidade histórica.
Fonte de Estudos
. Bíblia de Estudo Arqueológica
. Quem é quem na Bíblia Sagrada - Paul Gardner
. Pesquisa e Edição - Michael Rossane
Nenhum comentário:
Postar um comentário