terça-feira, 13 de fevereiro de 2018


A Nudez sobre uma perspectiva Bíblica



Wilma Rejane

Então, deixando-o, todos fugiram.E um certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão.Mas ele, largando o lençol, fugiu nu. Marcos 14:50-52

Inicio dizendo que esse artigo não tem a intenção de desvendar a identidade do jovem nu. Isto já foi feito por mim em dois artigos publicados no blog e que podem ser lidos Aqui e Aqui. O objetivo é trazer outra perspectiva, algo que ainda não havia visto em nenhum outro artigo ou sermão sobre a referida passagem do Evangelho. 

O  jovem, citado apenas no Evangelho de Marcos,  se cobria apenas com um lençol e em determinado momento larga o lençol e foge. Todos os demais que seguiam Jesus já haviam fugido, o calvário se aproximava, os guardas romanos haviam capturado Jesus. Ele era o último. Alguém que resistiu mais um pouco. Ficou a sós com Jesus como quem desejava Sua presença e atenção. Ele se destacava na cena porque se apresentava de um modo singular, incomum. Aquela nudez não denotava indecência, pobreza, mas humilhação, flagelo interior. Aquele homem sofria por algo que não nos compete saber, mas por insistir em seguir Jesus, tudo indica que ele sabia, reconhecia,  que Jesus tinha uma resposta para ele.

O sofrimento humano é como aquele homem nu fugindo do caminho para o Calvário. Ninguém almeja o sofrimento (a vida é uma constante busca por felicidade), porém, todos sofrem. O sofrimento desnuda a alma no sentido de tornar o homem consciente de sua limitação, de humilhar a auto-suficiência humana. O justo Jó, ao sofrer sobremaneira, em determinado momento declarou: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei.” Jó 1:20,21. A nudez denota impotência, condição de total dependência, de uma humanidade passageira, cujo significado se pauta em algo maior, aquém de qualquer bem terreno. A declaração de Jó reflete a consciência de um homem que conhecia o sentido da vida. O calvário de Jó lhe concedeu sobriedade sobre valores, terrenos e eternos.

Aquele jovem nu, fugindo da cena, é como qualquer de nós; nus e a caminho do calvário todos se igualam, não há rico ou pobre, rei ou escravo, não há ouro, prata, linho, trapos. E se seguimos a Jesus, como aquele jovem seguia, o sofrimento nos aproximará Dele ( I Pedro 4:13). Aquele jovem sofria, sua nudez dava sinais disso, sua busca por Cristo também. Seu lençol jogado ao chão, para mim está como um paradoxo: estando totalmente nu, ele se achou completo, pois teve a certeza de que Cristo era de fato seu tudo! Embora a narrativa não afirme, ou cite detalhes,  imagino que Jesus se voltou para aquele jovem e disse algo que preencheu seu ser de modo que ele sai de cena coberto de graça Divina.

Cada um de nós tem seu calvário pessoal, é impossível viver nessa terra e não padecer de qualquer dor. Ao olharmos para nosso sofrimento teremos a impressão de que ele é maior do que o de outras pessoas, contudo, e a medida que nos aproximarmos de Cristo, vamos “lançar o lençol ao chão”, por experimentar Seu amor, Sua proximidade, Seu cuidado. Cristo enfrentou o Calvário por nós, para nós. Cristo ficou só a caminho da cruz: “E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Mateus 27:46. É possível que diante de sofrimentos como doenças, separações, perdas, decepções, sintamos solidão e dúvidas. Cristo, porém, não estava só nem abandonado, Deus o assistia e tudo quanto passou cumpriu um propósito maior.

E assim como o sofrimento de Cristo teve um propósito maior, se estamos com Cristo, precisamos acreditar que Ele nos ampara e nos faz crescer diante do que nos aflige. Precisamos recordar do amor de Jesus, pois Ele nos cobre de cuidados, Sua eterna graça é como um manto que nos aquece naqueles dias de nudez.

Foram essas as lições que aprendi com a passagem do Evangelho sobre o jovem nu. Através dela fui fortalecida em fé para que minhas obras sejam agradáveis ao Pai celestial. Se temos calvários a enfrentar, que sejam com Cristo, que nossa nudez não seja de vergonha por pecados (Apocalipse 16:15), mas de consciência de que somos  absolutamente dependentes de Deus Pai, Ele nos cobre de graça e amor, de cuidado e providência.

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