A linguagem do choro em Naim
Jesus se compadeceu dela e disse: Não chores! E devolveu a vida ao morto. |
Wilma Rejane
O encontro de Jesus com a viúva da cidade de Naim é descrito em apenas seis versos no Evangelho de Lucas que ao final do capitulo frisa: “Todas essas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos” Lucas 7: 18. Um milagre sobre ressurreição, cujo objetivo principal era demonstrar o poder de Jesus sobre a morte. Por muitas vezes já passei o olhar sobre esses versos me alegrando pela certeza de que somente Jesus tem todo poder e autoridade para trazer de volta a vida, quem quer que seja. Lucas estava lá, viu o jovem rapaz se levantar do caixão e a multidão entoar glórias a Deus. Se alguém saiu correndo de medo, não se sabe, mas a Bíblia diz que: “Todos ficaram possuídos de temos e glorificavam a Deus” Lucas 7:16.
Vendo-a o Senhor se compadeceu dela e disse: Não chores! Lucas 7:13
Além da ressurreição do filho da viúva, tem outros aspectos dessa passagem, que gostaria de enfatizar, detalhes que não foram ditos e que intrigam o leitor sedento por conhecer mais sobre o agir de Deus. Por exemplo: Em que momento da narrativa vemos a viúva orando a Jesus, pedindo para seu filho ser ressuscitado? Não é dito, mas sabemos que ela chorava acompanhada de grande multidão. Naim era uma pequenina cidade, ainda existe nos dias atuais no sopé do monte Tabor e não cresceu muito, seu nome significa: “ graciosa, bela,charmosa”. Diante dessa descrição de Naim, podemos afirmar que a multidão que acompanhava o cortejo era proporcionalmente grande. A cidade era pequena e estava praticamente em peso se solidarizando com a viúva. Isso também nos leva a crer, que a viúva era uma pessoa honrada e bem conceituada em Naim.
Em que momento a viúva orou, clamou para Jesus ressuscitar seu filho? Não se sabe, o que é descrito é: “ Saia um cortejo fúnebre da cidade de Naim, e às portas da cidade, Jesus e seus discípulos encontram os que saiam ao enterro, grande multidão. Jesus olha para a mãe do jovem morto, se compadece dela e diz: Não chores! Chegando, tocou o esquife e parando o que os conduziam disse; jovem, eu te mando, levanta-te! Sentou-se o que estava morto e começou a falar” Lucas 7: 11 -15. Quanto amor o de Jesus! Ele não age apenas porque tem o poder, mas porque é movido por amor! Jesus teve compaixão da mãe, das lágrimas, da dor e foi ao encontro dela. Lágrimas são orações, choro é linguagem que desperta a ação de Deus! Jesus leu o que cada lágrima escorrida no rosto daquela mão queria dizer e ela não disse porque não cabia em palavras. E Jesus a acalentou com um: Não chores!
Você já parou para pensar que aquele filho morto era a última coisa que dava alegria àquela mulher? Viúva, sem marido, e agora ficaria sem filho. Ela tinha a amizade de muitas pessoas, mas não era suficiente. A esperança estava depositada no filho. Aquelas lágrimas eram de um choro profundo, mesmo porque nenhum choro se compara ao choro de uma mãe por seus filhos. Não sabemos se ela tinha condições de ter outros filhos, de casar de novo, não se sabe, mas o que marca a vida da viúva de naim, para sempre, é seu encontro com Jesus. Ele devolve a alegria para aquele coração tão angustiado e aflito. Jesus a amou e fez por ela, o que ninguém mais poderia fazer. Essa ênfase de Jesus em relação ao choro da viúva nos traz conforto e ânimo. Porque Jesus se compadece de nossas fraquezas, decepções e ouve a oração do choro, até conta nossas lágrimas.
Tu contas as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no teu odre. Não estão elas no teu livro? Salmos 56.8
Você conhece algum outro Deus que conta lágrimas, que decifra a linguagem do choro? Não conheço, nunca ouvi falar. Mas Jesus é o que passa a mão em nosso rosto e enxuga amorosamente as lágrimas. A viúva de Naim estava se aproximando da sepultura e sua dor aumentava a cada passo, mas pelo caminho: Jesus. É possível mudar situações, transformar pessoas? O Evangelho nos confirma que sim, porque Jesus veio para salvar. Mães que choram pelos filhos, Deus ouve. Filhos que choram, Deus também ouve. Maridos, esposas que choram, Deus ouve. Mas Ele não ouve apenas, Ele lê a linguagem das lágrimas, das palavras que não cabem nos lábios. Você lembra do choro de Ismael? Uma criança chorando no deserto porque estava com sede, havia acabado a água que sua mãe Agar carregava enquanto fugia desesperada:
“E consumida a água do odre, lançou o menino debaixo de uma das árvores. E foi assentar-se em frente, afastando-se à distância de um tiro de arco; porque dizia: Que eu não veja morrer o menino. E assentou-se em frente, e levantou a sua voz, e chorou. E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação.” (Gênesis 15:15-18)
A mãe também chorava, mas foi o choro do bebê que Deus ouviu, a oração dele. Crianças oram através do choro porque ainda não sabem usar as palavras, as lágrimas são a linguagem da angústia, do clamor. Não desprezemos o choro das crianças. Outra lição é de que até mesmo as lágrimas têm que ter linguagem agradável a Deus: Por que choramos? Agar não chora com Ismael em seus braços, ela chora antecipadamente pela morte do filho, não para que ele viva. O menino chora porque não quer morrer, porque quer colo. Fato é que nas duas história aqui descritas: a viúva de Naim e Ismael, Deus ouve o choro e vem em socorro.
Existe algumas teologias que afirmam que o cristão não deve chorar, mas se alegrar sempre, louvar na tristeza, mas não é bem assim. Choro é oração e também move a Deus. No sermão da montanha Jesus disse: “Bem aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5:4). Então, amados leitores, não choremos sem esperança ou consolo porque Deus vê cada lágrima e lê a linguagem delas. Assim como Ele devolveu a vida ao filho da viúva de Naim, que já havia perdido o marido e a alegria, Ele pode devolver a vida a situações que nos fazem chorar. Ainda que pensemos estar sozinhos, como Ismael no deserto, mas Ele ouve desde os céus. O importante é jamais perder a fé de que Deus traz a existência as coisas que não existem (Romanos 4: 17).
Só para concluir, cito também o exemplo de Maria Madalena que chorava a entrada do sepulcro de Jesus se achando sozinha e abandonada. Jesus aparece para ela e pergunta: “Mulher, porque choras? E ela responde: Levaram meu Senhor, não sei onde o puseram. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela voltando-se disse: Raboni (que quer dizer Mestre). Jesus estava com ela, mas ela não via porque o tinha como morto. Mas Ele estava vivo e perto. E assim é para conosco.
Que a paz e o amor de Jesus seja com todos.
Artigo relacionado: O Filho da viúva de Naim
Nenhum comentário:
Postar um comentário