quarta-feira, 20 de março de 2013


SEGUNDO A BÍBLIA, O QUE A IGREJA DEVE CANTAR







Qual a relevância que a pergunta acima possui para você? Seria realmente importante buscar uma resposta honesta para ela?


Em um momento em que vemos até mesmo igrejas reformadas históricas aderindo ao uso de solos, duetos, quartetos, grupos de louvores, corais e tantos outros tipos de conjuntos musicais, numa clara demonstração de conformação à filosofia pragmática dos nossos dias, acredito que seja extremamente importante que a Igreja Reformada Congregacional defina, a partir de uma interpretação coerente das Escrituras, o que deverá fazer parte do seu hinário, por meio do qual ela irá louvar o nome do Senhor.


Ao conhecermos mais pontualmente a teologia reformada, nos foi apresentado o Princípio Regulador do Culto, no qual os elementos que devem fazer parte do verdadeiro culto a Deus são claramente expostos. Aprendemos que a base bíblica para o princípio regulador é inquestionável (Êx 20.4-6; Dt 12.32; 15.1-20; Mt 4.9,10; 15.9; Jo 4.23,24; At 17.25; Cl 2.23).


Sabemos que entre os elementos que devem fazer parte do culto está o cântico. Sabemos também que a maneira pela qual o cântico deve ser apresentado é a que normalmente chamamos de congregacional, ou seja, o cântico não pode ser representativo, todos os salvos reunidos para o culto, devem cantar juntos, o louvor ao Senhor nosso Deus.


O que tem trazido dificuldades é a definição do que deve ser o conteúdo do cântico, ou o que a igreja deve cantar. Observe os seguintes exemplos:


Algumas igrejas em todo o mundo acreditam que para ser fiel às Escrituras e, conseqüentemente, ao princípio regulador, a igreja deve cantar exclusivamente os Salmos da Bíblia.


Por outro lado, a maioria das igrejas reformadas históricas, acreditam que a igreja deve cantar a Bíblia, ou seja, os Salmos, e os hinos que contenham em suas letras as doutrinas expostas nas Escrituras Sagradas.


Existem ainda algumas igrejas que descartam totalmente a necessidade de cantar os Salmos, afirmando que eles dizem respeito única e exclusivamente ao povo de Israel. É claro que não pretendemos perder tempo com os argumentos usados para defender a idéia de que a igreja não deve cantar os Salmos, pois as Escrituras ordenam claramente o seu cântico pela igreja (Ef 5.19; Cl 3.16).


Nosso estudo deve ocupar-se então, com os argumentos usados para defender a salmodia exclusiva e os argumentos usados para defender a salmodia inclusiva. Confesso que quando me preparava para escrever este estudo, pensei em construí-lo baseado em refutações duras aos argumentos dos irmãos que acreditam, como chegamos a acreditar num dado momento, sem o estudo necessário, que o único culto completamente aceitável por Deus, seja aquele no qual apenas os Salmos são cantados (Para este tipo de abordagem, consultar linkhttp://www.monergismo.com/textos/liturgia/Salmodia_Exlcusiva_Crampton.pdf). Mas mudei de idéia por entender que tudo quanto for dito a respeito da importância da igreja cantar os Salmos é verdadeiro, portanto os argumentos que enfatizam a necessidade da igreja cantá-los não podem e não devem ser refutados. Nenhuma igreja verdadeiramente reformada se opõe à verdade de que as Escrituras ordenam o cântico dos Salmos. O que se discute é se a igreja deve cantá-los exclusiva ou necessariamente. Por isso nosso estudo será desenvolvido sob a perspectiva da coerência dos argumentos. Coerência na exegese e/ou hermenêutica, em relação à história e em relação às conseqüências resultantes da prática de uma ou outra posição.


Talvez seja importante para os irmãos antes de iniciarmos o estudo, saberem que em nenhum momento da história da igreja, uma ou outra posição a respeito do que a igreja deve cantar atingiu uma unidade de entendimento numa dimensão universal.






COERÊNCIA EXEGÉTICA PARA O CÂNTICO DOS SALMOS





Os principais argumentos no campo exegético para aqueles que defendem a salmodia exclusiva são os seguintes:


1. As Escrituras tanto do Antigo quanto do Novo Testamento ordenam o cântico dos Salmos (I Cr 16.7-9; II Cr 29.30; Ef 5.19; Cl 3.16).


2. O Senhor Jesus e os discípulos cantaram os Salmos (Mt 26.30; Mc 14.26).


3. Os apóstolos “cantaram” ou “recitaram” os Salmos (At 1.16,17 c/ Sl 41.9; 69.25; 109.4-8; 2.24-33 c/ Sl 16.8-11; 4. 24 c/ Sl 146.5,6; 4.25,26 c/ Sl 2.1,2; 13.33 C/ Sl 2.7; 13.33-37 C/ Sl 2.7,10).


Como já afirmamos na introdução, não pode haver questionamento a respeito da base bíblica para a igreja cantar Salmos. A Escritura é clara sobre isto (Sl 105.1,2). Sabemos também que o Senhor Jesus, na celebração da páscoa e instituição da Ceia, cantou Salmos. Mas isso era mais do que esperado, mesmo porque, tanto o Senhor quanto os seus discípulos eram Judeus, os Salmos tornou-se o hinário da igreja do Antigo Testamento e fazia parte da tradição judaica cantar os Salmos 113 (outros estudiosos buscam afirmar que o inicio deste cântico seria a partir dos Salmos 115) a 118 por ocasião da celebração da páscoa.


No entanto, usar o fato do Senhor cantar os Salmos para defender a exclusividade do cântico dos Salmos pela igreja não é uma atitude hermeneuticamente coerente. Jesus fez muitas outras coisas maravilhosas, mas o fato dele as tê-las feito, não significa, obrigatoriamente, que a igreja as tenha que fazer também. A igreja não deve procurar fazer todas as coisas que Jesus fez, mas sim todas as coisas que Ele ordenou que ela fizesse (Mt 28.19,20; Jo 13.1-5,12-15). Os mesmos que defendem a salmodia exclusiva baseados neste argumento, não estão dispostos a andar sobre as águas, realizar curas e muito menos morrer pelos pecados do povo de Deus.


Quanto ao uso dos Salmos pelos apóstolos, me parece não haver o cuidado necessário da parte dos irmãos que defendem a salmodia exclusiva de não induzirem as pessoas a ver os apóstolos cantando os Salmos nos textos em que eles estão usando-os, como Escritura inspirada que são, para fundamentar suas decisões, suas pregações e suas orações. Não estou dizendo com isto que os apóstolos não cantavam os Salmos, nem mesmo que não cantavam exclusivamente os Salmos, nos primeiros dias da igreja. Estou querendo dizer que colocar os apóstolos “cantando” ou “recitando” os Salmos nesses textos é, no mínimo, questionável.






1. A ANÁLISE DAS PASSAGENS DE EFÉSIOS 5.19 E COLOSSENSES 3.16





Segundo os irmãos que defendem a salmodia exclusiva, nos textos de efésios 5.19 e Colossenses 3.16, o apóstolo Paulo não está apenas ordenando o cântico dos Salmos, ele está, na verdade, ordenando o cântico exclusivo dos Salmos.


Os meios utilizados para tentar comprovar isto são diversos. Vejamos alguns:


1.1. O uso da forma triádica na literatura judaica.


É comum encontrarmos argumentos a favor da salmodia exclusiva extraídos da realidade de que na literatura judaica era muito comum o uso de palavras sinônimas para enfatizar uma determinada verdade. Por exemplo: “... Que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado...” (Êx 34.7); “... mandamentos, estatutos e juízos...” (Dt 5.31; 6.1); “... de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo o teu entendimento” (Mc 12.30; Lc 10.27); “... sinais, prodígios e maravilhas...” (At 2.22; II Co 12.12). O argumento utilizado é que assim como as palavras repetidas três vezes nos textos citados são sinônimas e, portanto, significam a mesma coisa; semelhantemente, salmos, hinos e cânticos espirituais também significam a mesma coisa.


Percebo a falta de coerência nesta interpretação quando se omite o que o recurso da forma triádica busca enfatizar no texto. O objetivo não é enfatizar os substantivos, mas sim o verbo. Os substantivos na verdade têm sentidos diferentes quando observadas a etimologia de cada palavra, como veremos posteriormente, e são usadas juntas não para enfatizar, repetir, ou fortalecerem a si mesmas, mas para enfatizarem a verdade afirmada antes delas.


Assim em Êxodo 34.7, a ênfase não está sobre as palavras iniqüidade, transgressão e pecado, mas sobre o alcance do perdão de Deus a todo e qualquer tipo de pecado. Em Deuteronômio 5.31 e 6.1, a ênfase não está sobre as palavras mandamentos, estatutos e juízos, elas são usadas para definir a totalidade da vontade de Deus revelada a Moisés. A ênfase recai sobre o dever de Moisés de ensinar toda a vontade revelada de Deus ao seu povo e sobre a responsabilidade do povo de Deus em cumpri-la. No texto de Marcos 12.30 e Lc 10.27;





Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.


Marcos 12:30





E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.


Lucas 10:27


Notem caros irmãos, a ênfase recai sobre a intensidade do amor que o homem deve a Deus. Em Atos 2.22, a ênfase é lançada sobre a aprovação de Deus para com o seu amado Filho. Em II Co 12.12, a ênfase recai sobre a autenticidade do apostolado de Paulo e, em Efésios 5.19 e Colossenses 3.16, o que Paulo está enfatizando é a plenitude da alegria, que o Espírito Santo ou apalavra de Cristo pode produzir na vida de seus leitores. Plenitude esta que uma vez experimentada, é expressa de forma variada em seus encontros. As formas de expressá-las envolvem os salmos, os hinos e os cânticos espirituais.


1.2. A questão dos títulos para os Salmos encontrados na Septuaginta.


Esse argumento carrega consigo a falácia da eisegese, que é o erro de conduzir de fora para dentro do texto, o sentido que esperamos que ele contenha. É o contrário da exegese, que tem como princípio extrair do texto o seu verdadeiro sentido, ou seja, o sentido pretendido pelo autor.


Os defensores da salmodia exclusiva argumentam que a tradução grega do Antigo Testamento hebraico, a Septuaginta (LXX), usa as três palavras encontradas em Efésios 5.19 e Colossenses 3.16 como títulos em sua versão do Saltério (livro dos Salmos), por causa disso encontram Paulo, que usava a Septuaginta, restringindo o louvor da igreja aos Salmos quando claramente não é esta a sua intenção.


Além do erro de irem para o texto com esses pressupostos, existe o fato de que alguns estudiosos acreditam que esses títulos podem ter sido inserções da Septuaginta, sem evidência no hebraico. Existe também o caso da septuaginta usar os mesmos títulos em várias outras passagens do Antigo Testamento (Êx 15.1; Dt 31.19-22; 32.44; Jz 5.12; II Sm 22.1; Is 42.10; Hc 3.1,19). De fato, trata-se de mais um argumento sem coerência.


1.3. A interpretação dos textos.


Que as palavras desses textos não significam a mesma coisa, ou seja, os Salmos, fica claro nos comentários que grandes exegetas fazem dos mesmos. Vejamos alguns.


João Calvino, comentando Colossenses 3.16:


“Em lugar de cânticos obscenos ou, pelo menos, meramente modestos e decentes, recorreis ao uso de hinos cânticos que expressem o louvor de Deus (Até aqui parafraseando as palavras de Paulo).Ademais, sob estes três termos ele inclui todos os tipos de cânticos (itálico meu). Eles são comumente distinguidos desta maneira: salmo é aquele que, ao ser entoado, se faz uso de algum instrumento musical juntamente com a língua; hinoé propriamente um cântico de louvor, seja entoado simplesmente com a voz, ou de outra forma; enquanto que uma odenão contém meros louvores, mas também exortações e outras matérias”. (Comentários de Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses – Editora Fiel, Pág. 575).


William Hendriksen, comentando Efésios 5.19:


“O termo salmos com toda probabilidade se refere, ao menos principalmente, ao saltério do Antigo Testamento; hinos, principalmente aos hinos de louvor a Deus e a Cristo no Novo Testamento... e finalmente, cânticos espirituais, principalmente à lírica sagrada, tratando de temas não diretamente relacionados com o louvor a Deus ou a Cristo. Pode haver, entretanto, certa abrangência ou amplificação na significação desses três termos segundo o seu uso aqui, por Paulo” (Comentário bíblico da Epístola aos Efésios – Cultura Cristã).


F.F. Bruce, comentando Colossenses 3.16:


“É improvável que qualquer divisão severamente demarcada seja intencionada, embora os “salmos” possam ser extraídos do Saltério do Antigo Testamento (que forneceu um veículo principal para o louvor desde os tempos primitivos), os “hinos” possam ser cânticos cristãos, alguns dos quais são reproduzidos, no todo ou em parte, no texto do Novo Testamento, e ‘cânticos espirituais” possam ser palavras espontâneas cantadas ‘no Espírito’, proclamando aspirações santas“ (Citado por W. Gary Crampton –www.monergismo.com).


Dr. D. Martyn Lloyd – Jones, comentando Efésios 5.19:


“Há, Pois, aqueles que sempre argumentam dizendo que a frase “salmos, e hinos, e cânticos espirituais”, é uma expressão genérica que se restringe aos salmos e que se refere a todo o livro de Salmos. Dizem eles que Paulo está dizendo aos cristãos de Éfeso que cantem do livro de Salmos, e que está regulamentando que na igreja não se deve cantar outra coisa senão Salmos, e talvez certas frases ou paráfrases escriturísticas. Esse ponto de vista foi sustentado por muitos na Igreja através dos séculos, e ainda hoje é sustentado nalguns lugares na Igreja Cristã.


No entanto, escritores bem conhecidos, escrevendo sobre Efésios, inclusive eruditos como Charles Hodge e Eadie, e, na verdade, praticamente todos os grandes comentaristas dos séculos dezoito e dezenove, em geral concordam que as palavras têm sentidos diferentes. Eles sustentam que, embora não se deva exagerar nas distinções entre elas, o apóstolo menciona os três termos deliberadamente, a fim de fazer uma descrição geral da ampla variedade de maneiras pelas quais as pessoas que são cheias do Espírito dão expressão à sua alegria e à sua felicidade.


A palavra hebraica para ‘salmo’ é derivada de uma palavra que as autoridades concordam significam ‘cântico sagrado destinado a ser entoado com acompanhamento de instrumento musical’. Daí – e isto é interessante em si mesmo – esta palavra veio a ser empregada com relação a uma forma particular de poema sacro que se acha no livro de Salmos, onde os poemas eram quase que invariavelmente cantados com o acompanhamento de música instrumental, com instrumentos tais como a harpa e o alaúde...


Um hino é essencialmente um cântico de louvor a Deus, um cântico religioso, uma composição poética sacra. O grande Agostinho fez uma definição de hino. Disse ele que o hino deve ser louvor a Deus, e deve ser cantado. E em geral sempre tem sido essa a conotação aceita da palavra.


O cântico é uma ode, um poema lírico, e é importante assinalar que o apóstolo diz ‘cânticos espirituais’. Ele não precisa dizer ‘salmos espirituais’ porque, por definição, o salmo é um cântico sacro. Tampouco diz ‘hinos espirituais’ porque, como Agostinho nos lembra, todo hino não somente deve ser louvor, mas louvor a Deus. E, naturalmente, continuamos usando a mesma espécie de terminologia quando falamos sobre um hino ou um Salmo. Não há necessidade de acrescentar que é espiritual ou sagrado; isso é tomado como certo. Mas você pode ter todos os tipos de cânticos ou canções, tanto seculares como religiosos; pode se ter uma canção cômica, por exemplo. Por isto o apóstolo precisa qualificar a sua declaração: “Vocês devem cantar cânticos (ou canções) espirituais””(Cantando ao Senhor – Editora PES).






2. O ARGUMENTODO USO EXCLUSIVO DE TEXTOS INSPIRADOS NO CULTO





Outro argumento de natureza exegética é o que afirma que a razão porque apenas os Salmos devem ser cantados é que apenas os Salmos foram inspirados por Deus com o propósito e a ordem de ser cantado no culto. Outros cânticos existentes nas Escrituras, apesar de também ser inspirados por Deus, não foram inspirados com o propósito de serem usados no culto.


Como todos os estudiosos, independente da posição que defenda sabem, os textos de Efésios 5.19 e Colossenses de 3.16 não tratam da regulamentação do culto, e como estamos observando, também não ensinam a salmodia exclusiva. Portanto, esse argumento já não é coerente. Neste ponto, gostaria de repetir: Ninguém pode negar que as Escrituras ordenam a igreja a cantar Salmos, mas não existe base bíblica para o cântico exclusivo dos Salmos.


W. Gary Crampton afirma:


“Os defensores do argumento da canonicidade para o cântico devem distinguir entre ensino, pregação, cântico e recitação da verdade bíblica. Em Efésios 5.19 somos ordenados a “falar” (laleo) uns aos outros, e em Colossenses 3.16 a “ensinar” (didasko) uns aos outros, “por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais”. Todavia, Paulo também instruiu Timóteo a “ensinar” (didasko) (I Tm 4.11; 6.2) e a “pregar” (kerusso) (II Tm 4.2) para sua congregação na adoração pública. Agora, é racional supor que é biblicamente apropriado pregar as verdades encontradas no Credo Apostólico e não ser capaz de cantar ou recitar as mesmas verdades, porque elas não são encontradas em nenhum lugar nos Salmos? Isso está longe de ser provável; de fato, é um absurdo. A igreja tem toda justificativa bíblica para formular hinos, cânticos, credos, e assim por diante, desde que baseado nas Escrituras, e incorporá-los na adoração pública de Deus como um meio de louvá-lo e ensinar uns aos outros” (www.monergismo.com).


O Rev. Waldemir Magalhães Cruz, após a leitura do livro “Salmodia exclusiva, uma defesa bíblica” do Pr. Brian M. Schwertley compartilhou algumas de suas impressões sobre o mesmo, entre as quais gostaria de citar agora a seguinte:


“Parece que o Pr. Brian pretende transformar o mandamento de se “cantar os Salmos” em “cantar EXCLUSIVAMENTE os Salmos”. Para tanto, alega que há um livro de cântico oficial na Bíblia que é justamente a coleção de 150 Salmos. Ele sempre insiste que não podemos, portanto, cantar composições mesmo inspiradas no Culto que não seja EXCLUSIVAMENTE os Salmos e cantar qualquer coisa que não Salmos é sacrilégio. Quando, mencionamos que há outros “cânticos inspirados” nas Escrituras como o Cântico de Mirian, os Cânticos que o Apóstolo Paulo e outros dirigiram ao Senhor, o Pr. Brian parece criar uma classe inferior de “Cânticos ou composições inspiradas” ao dar a entender que tais “composições inspiradas” não fazem parte da coleção de 150 Salmos. Perguntamos: poderíamos cantar estes cânticos inspirados ou outras partes das Escrituras no Culto? Ou cometeríamos sacrilégio? Haveria os Salmos de ser “mais” inspirados do que outras partes das Escrituras? E quando acrescentamos que há para as igrejas reformadas outros elementos de culto que são “composições humanas não-inspiradas” como o Credo Apostólico, leitura do Catecismo de Heidelberg, Confissão Belga, as Formas litúrgicas, as orações e a própria pregação, ele diz que o louvor é um elemento distinto. Mas o que significa esta distinção? Qual o problema finalmente, o fato de ser “composições humanas não-inspiradas”, não estar na coleção dos 150 Salmos, ou o que? A própria formulação: ou a coleção dos 150 Salmos ou nada, parece ser estabelecida de forma arbitrária. Parece que assim ele estabelece um Cânon dentro do Cânon sendo o primeiro superior ao segundo. Parece que a conclusão é que há uma supervalorização dos Salmos em detrimento de outras partes das Escrituras”(http://www.bandeiradagraca.org/2009/12/salmodia-exclusiva-compartilhando.html).Interessante são os comentários que seguem neste estudo (link acima), principalmente quando citado a “justificativa puritana” para o canto exclusivo de salmos, o que é certo que não pode ser uma justificativa bíblica.


CONCLUSÃO:


Quando estudamos o Novo Testamento encontramos vários textos que segundo a tradição da igreja eram citações de hinos cantados no culto da igreja primitiva. Os textos de Ef 5.14, Fp 2.6-11, Cl 1.15-19 e I Tm 3.16 entre outros, são reconhecidamente textos extraídos de hinos de louvores a Cristo entoados pela igreja primitiva. A igreja primitiva reconheceu a necessidade de se louvar o sublime nome de Jesus (Mt 1.21; Jo 14.13,14; At 3.6,16; 4.8-12; 19.13-17; Rm 10.9; Fp 2.9-11; Cl 3.17; II Ts 1.11,12), coisa que ela jamais faria se cantasse exclusivamente Salmos. Sabemos que encontramos o nosso Senhor, Seu sofrimento e Sua obra profetizados nos Salmos (Lc 24.44-46), mas o Seu nome, Jesus, não está ali, o mistério do evangelho ainda não estava plenamente revelado (Ef 3.1-13), não importa quantos argumentos os defensores da salmodia exclusiva apresentarão para provar o contrário.


Considero pertinentes as palavras do Rev. Folton Nogueira, pastor presbiteriano, quando de sua análise da salmodia exclusiva em seu blog:


“Todos os Salmos foram escritos antes da plenitude dos tempos. Antes de nosso Senhor se fazer um de nós. Dificilmente haverá um Salmo que não esteja escrito no tempo futuro ou não manifeste uma intenção ou uma cosmovisão que expresse um Messias esperado. Entretanto a Igreja vive em outra dispensação: Para nós o Messias já veio. Não há mais sentido em cantar “Eu te louvarei Senhor...”, pois agora já o louvamos. Agora cantamos “Eterno Pai teu povo congregado, alegre entoa teu louvor aqui” ou “Estamos reunidos aqui Senhor por que temos conhecido teu amor”. Agora já cantamos aquele cântico novo que era tão esperado pelos antigos. Com cântico novo não estou me referindo à forma, mas ao ângulo com que vemos a história. Àquilo que Jesus falou a seus discípulos: “...Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram” (Mt 13.16,17).


Como posso restringir os cânticos da Igreja aos 150 Salmos, se Israel não estava restrito a eles? Você está lembrado do cântico que Deus mandou Moisés compor e que devia servir de memória para as gerações futura sem Dt 31.19-22? Não era um Salmo, era o que os hebreus chamavam de “shir” e foi traduzido para o grego por “ode”. Leia Deuteronômio 31 e 32. Pois bem: Esse cântico não faz parte dos 150 Salmos e conhecemos bem o único Salmo de Moisés que está naquela coleção, que é o 90. Entretanto, ele será relembrado por ninguém menos que o Senhor Jesus”. Veja Apocalipse 15.1-3(Folton.blogspot.com).


Segue breve, mas coerente (bíblico) comentário do irmão Solano Portela:


“Salmodia Exclusiva? Postei esse comentário em post de um irmão amado: Salmodia exclusiva não existe. Primeiro, se é salmodia, tem que ter instrumentos, como nos Salmos - o que, via de regra é rejeitado pelos que defendem a salmodia exclusiva; segundo, é sempre salmodia + tradução (elemento humano) + métrica (elemento humano) + melodia "inventada" (pois não temos acesso à música original - daí, elemento humano). Resulta em forma artificial de enganar-se a si mesmo e de ter uma abordagem supostamente mais purista, enquanto que se constitui, na realidade, solo fértil a que aflorem sentimentos de auto-justiça e julgamento do louvor sincero de outros irmãos, que pensam diferentemente”.


E ainda, do irmão Mauro Meister:


“Se salmodia exclusiva vale pelos princípios, sermão não vale e a leitura da Bíblia deveria ser nos originais. Traduzo e estudo há muito tempo: tradução é interpretação! Tanto é que continuamos necessitando de interpretações e as devidas aplicações.”


Se não tivermos uma base exegética séria, ortodoxa, seremos enganados pelo subjetivismo e preferências pessoais, como muito vemos em várias denominações, as pentecostais por exemplo, ou as dispensacionalistas, assim como as que cantam exclusivamente salmos, não há uma única inferência, muito menos uma ordenança, e mesmo assim, os três “arrumam” “bases” para aquilo que acreditam, todavia, por uma perspectiva puramente subjetiva(extraído do coração e da mente) e não objetiva (extraído das Excrituras).






COERÊNCIA NO USO DA HISTÓRIA PARA O CÂNTICO DOS SALMOS





A história da igreja tem sido geralmente usada como forte aliada na busca de se estabelecer o que a igreja contemporânea deve cantar. Mais uma vez o grande problema é a questão da falta de coerência, quando não, de honestidade, pois percebemos que alguns fatos, documentos ou personagens da história da igreja são citados parcialmente ou fora do seu contexto para apoiar o cântico exclusivo dos Salmos. Outro problema é o fato das citações serem feitas com a perspectiva de que a história prova que ou a igreja canta apenas os Salmos e assim atende ao princípio regulador do culto ou ela está contra o cântico dos Salmos e introduzindo no culto elemento não autorizado por Deus.


Em um artigo postado no site www.monergismo.com, com o título “Glória e suficiência dos Salmos para o cântico”, atribuído a diversos autores, encontramos muitas referências a pais da igreja, a concílios, a reformadores e muitos outros homens da história da igreja que de acordo com o artigo defenderam o cântico exclusivo dos Salmos.


A princípio, não existe problema nenhum com a citação da história para defesa da salmodia exclusiva. Todo estudioso sabe muito bem que muitos homens de Deus ao longo da história da Igreja lutaram em defesa do cântico exclusivo dos Salmos no culto. O problema envolvido nessas citações é a falta de coerência. Percebemos a falta de imparcialidade pelos seguintes motivos:


1. É omitido o fato de que a razão pela qual os pais da igreja procuraram cantar exclusivamente os Salmos, não era por reconhecer que havia mandamento bíblico para cantá-los de forma exclusiva, mas sim, por causa de sua luta contra as heresias, pois era muito comum aos hereges, a difusão de suas heresias através de hinos que eles habilidosamente compunham. O artigo também omite os nomes de pais da igreja que defendiam o cântico de salmos e hinos. A igreja dos primeiros séculos, contou com escritores de hinos tais como, no século IV, Efraim, Gregório Nazianzeno e Ambrósio, que escreveram em siríaco, grego e latim, respectivamente; e o século VII se orgulhou do escritor de hinos Caedmon.


2. O sínodo de Laodicéia, citado no artigo, não impôs o cântico exclusivo dos Salmos como pretendem informar, mas proibiu o cântico de hinos não inspirados, ou seja, a igreja deveria cantar os Salmos e os outros cânticos encontrados nas Escrituras. Os Concílios de Calcedônia (451 d.C.) e o concílio de Braga (c. 563 d.C., cânon 12) fizeram o mesmo. Mas nenhum desses documentos declarou como ilegal o cânticos de hinos inspirados e cânticos espirituais em adição aos Salmos.


O segundo concílio de Tours (567 d.C., cânon 23), e o quarto concílio de Toledo (633 d.C.) defenderam o uso de hinos não canônicos.


3. Existem citações nas quais a ênfase está sobre o valor do livro dos Salmos e não sobre a obrigatoriedade de cantá-los exclusivamente na igreja como o artigo tem o objetivo de mostrar.


4. Reformadores como Lutero e Calvino são citados e quem lê o artigo entende que eles eram defensores ou praticantes da salmodia exclusiva. Mas isso não é verdade em relação a Lutero, pois ele compôs e cantou com a igreja muitos hinos, entre eles, o conhecidíssimo Castelo forte, nem tampouco em relação a Calvino, que preferia o cântico congregacional dos Salmos, sem acompanhamento musical, mas também usou uma versão metrificada dos Dez Mandamentos e da Oração do Senhor na adoração pública, juntamente com a recitação do Credo dos Apóstolos.


5. Durante a segunda metade do século XVI e por todo o século XVII, prevaleceu, na grande maioria das igrejas, o cântico exclusivo dos Salmos, principalmente por causa do movimento puritano e a influência da Confissão de Fé e do diretório de culto de Westminster, documentos citados no artigo. Mas com a chegada do século XVIII, a igreja em geral retornou ao uso dos hinos inspirados e não inspirados, juntamente com o Saltério. Escritores de hinos tais como Benjamim Keach, Isaac Watts, John Newton e William Cowper foram instrumentais nesse movimento. Desde aquele tempo, exceto algumas igrejas do Reino Unido e dos EUA, a maioria das igrejas reformadas fez o mesmo.






UM EXEMPLO DO USO COERENTE DA HISTÓRIA DA IGREJA





Gostaria de fazer uso de parte de um texto encontrado no sitewww.musicaeadoração.com.brcomo exemplo do uso correto e coerente da história da igreja no contexto do nosso estudo:


“Na igreja cristã primitiva eram usados, no canto, salmos, hinos e cânticos (Epístola de Paulo aos Efésios, 5:19, e aos Colossenses, 3:16).


O Livro dos Salmos foi herdado do culto judaico. Até o ano 60 da Era Cristã, os primeiros cristãos frequentavam o Templo de Jerusalém; depois, espalhando-se pela Palestina e outras províncias do Império Romano, passaram a frequentar as sinagogas; nelas ainda recebiam a influência do culto judaico. O Saltério contém indicações técnicas, à maneira oriental, que servem para descrever a natureza de cada salmo, orientar a sua execução, selecionar os executantes, agrupar as peças, recordar eventos históricos ou biográficos, escolher as melodias (adequando-as aos ritmos) e os instrumentos musicais.


O canto nas sinagogas consistia principalmente na entoação do Pentateuco e do Saltério; a cantilação desses textos bíblicos era baseada em fórmulas melódicas (ver: IDELSOHN, Abraham Z., Jewish Music. New York: 1929; WERNER, Eric, The Sacred Bridge, New York: 1970; NASSAU, Rolando de, O Jornal Batista, 11 maio 80).


O canto e a recitação de salmos continuaram nas igrejas durante a época apostólica. Os cristãos primitivos praticavam três tipos de salmodia: a antifonal, a responsiva e a direta; um quarto tipo era uma combinação de antífona e responsório. Com o apoio de Inácio de Antioquia, os salmos eram o canto cristão tradicional.


No princípio do século III, Clemente de Alexandria escreveu o primeiro hino cristão (conhecido)*. Mais tarde, o Sínodo de Antioquia encorajou o uso da hinodia pelas congregações. No século IV, Silvestre I criou, em Roma, uma escola com a incumbência de executar salmos numa boa parte do canto litúrgico.


Os heréticos (Bardesanes e seu filho Harmônio) possuíam sua hinodia própria, baseada em melodias folclóricas. Por sua vez, Efraim da Síria desenvolveu uma hinodia ortodoxa. Basílio de Cesaréia e João Crisóstomo discordavam: Basílio apoiava a salmodia, João, a hinodia. Essa controvérsia perdurou durante dois séculos. Em parte, o problema das heresias contribuiu para o abandono da hinodia.


A partir da Reforma Protestante uma nova estética musical se faz presente para acompanhar a teologia reformada. Com uma nova teologia surgiria também uma nova estética de adoração e consequentemente uma nova estética musical. Esta marcará a música como instrumento de propagação dos ideais da Reforma. Assim, principalmente Lutero percebe que poderia usar a música como suporte para a proclamação do evangelho e difundir os novos conceitos doutrinários, que, aliados à nova perspectiva musical, revolucionariam o mundo no século XVI.


Em 1541,(Calvino) retornou a Genebra e, durante 14 anos enfrentou as autoridades civis e algumas famílias influentes de Genebra. Promoveu a paráfrase francesa dos Salmos, versificada, rimada e apresentada em estrofes. O salmo protestante é uma paráfrase em língua vernacular (não em hebraico ou em latim). Por sugestão de Calvino, foi composto por Marot o saltério “oficial” da Igreja Reformada, numa sutil tentativa de penetração do Calvinismo entre a nobreza da França. A segunda coleção, sob influência direta de Calvino, foi publicada em 1542, com 39 cânticos, sendo dois (Salmo 113 e o Credo) por Calvino e 32 por Marot.


Em 1543, Calvino expôs suas idéias sobre a música e o canto na liturgia, por meio de observações introduzidas em comentários bíblicos e homilias (ver: Edith Weber, La Musique Protestante de langue française. Paris: Honoré Champion, 1979).


No prefácio do Saltério, escreveu que “a música tem um poder secreto para mover os corações, por isso devemos ser mais diligentes em regulá-la”.


A Reforma Protestante, liderada por Lutero no século XVI, prestigiou a hinodia (na forma do coral alemão) e o canto congregacional, mas os evangélicos (batistas, congregacionalistas, metodistas e presbiterianos) apegaram-se, durante quase dois séculos, à salmodia.


No princípio do século XVIII, os evangélicos, aos poucos, foram aceitando a hinodia, que chegou ao clímax de seu prestígio no Século XIX


(ver: JULIAN, John, A Dictionary of Hymnology, New York: Dover, 1957).”






CONCLUSÃO:


Gostaria de concluir este tópico, usando a citação que W. Gary Crampton faz de Jonathan Edwards, um puritano do século XVIII, que apesar de reconhecer o valor do saltério, não se restringiu a ele na adoração pública.


“Longe de mim pensar que o livro dos Salmos deva ser banido da adoração pública; ele deve ser sempre usado na igreja cristã até o fim do mundo. Entretanto, desconheço qualquer obrigação para nos restringirmos a ele. Eu não consigo encontrar nenhum mandamento ou regra na Palavra de Deus que nos limite às palavras da Escritura mais no cantar que no orar; dirigindo-nos a Deus nos dois casos. Não encontro nenhuma orientação bíblica a mais para falar-lhe pelo louvor, em métrica, ao som da música, que para dirigir-nos a Deus, em prosa, mediante a oração e súplica. É realmente necessário termos outros cânticos além dos Salmos de Davi. Torna-se exorbitante a suposição de que a igreja cristã deva, nos tempos de maior luz, permanecer eternamente restrita apenas às palavras do Antigo Testamento, quando assuntos infinitamente maiores de louvor a Deus e ao Cordeiro – as mais gloriosas particularidades do Evangelho – sejam pronunciadas como por trás de um véu e o nome de nosso glorioso Redentor nunca seja mencionado, apenas vislumbrado por entre alguma figura obscura, ou oculto sob o nome de algum tipo. E quanto ao uso das palavras de outras pessoas, não concebidas por nós mesmos, não é mais do que fazemos em todas as nossas orações públicas; toda a assembléia de adoradores, com a exceção de um, faz uso das palavras concebidas por quem fala em nome dos demais”.






COERÊNCIA PRÁTICA PARA O QUE A IGREJA DEVE CANTAR





Considerei necessário analisarmos a questão da viabilidade ou da coerência da prática do canto exclusivo dos Salmos em nosso país, usando a melodia característica de outra nação. Já tivemos oportunidade de verificar que o salmo protestante é uma paráfrase no vernáculo. Calvino parafraseou os salmos em francês (não no hebraico ou no latim). Logo, temos que admitir que, na prática, por causa da metrificação, não cantamos os Salmos em sua forma original. Comparar a metrificação com a tradução da Escritura, colocando as duas coisas em pé de igualdade não é coerente. Para a exposição das Escrituras, Deus nos deu a pregação, ela sim, deve expor o sentido do texto inspirado. A metrificação tem a função de parafrasear, versificar e colocar em estrofe o texto bíblico no vernáculo, para que ele seja cantado, preservando o louvor do perigo das letras sem fundamentação teológica e sem o devido temor a Deus.


Segue um texto, no qual está clara a incoerência da afirmação de que cantamos o texto inspirado por Deus, quando cantamos os salmos metrificados:






“Nem Calvino conseguiu cantar os Salmos. Cantou paráfrases dos Salmos, forçado pela metrificação. Pior ainda o que fazem hoje. Tomam o Saltério de Genebra e tentam traduzir a paráfrase dos Salmos para o português. O resultado, via de regra, é desastroso. Cante, por exemplo, o Salmo 1 com a letra feita para nossa língua - os acentos melódicos estão divorciados dos acentos das palavras.





Calvino entendeu que a música era serva da letra e no Saltério em inglês, por exemplo se verifica isto. Uma letra que se encaixava perfeitamente na música, composta exclusivamente para aquela letra.


Para que isto ocorresse em português, seria necessária a composição de uma nova música. Do contrario haverá sempre o divórcio da letra com a música composta em outra língua.


A paráfrase enfitada por Calvino, traduzida para o português, distancia de tal forma do texto bíblico, que não se pode, sequer, reconhecê-lo.


Nossos irmãos, que defendem a salmodia exclusiva, apegados ao Saltério de Genebra, estão criando um mostro musical, com algumas exceções, entre elas, os salmos que temos no Hinário Novo Cântico. Felizes versões, mas, ainda assim, não é o texto bíblico”(Folton.blogspot.com).






No livro de Ralph P. Martin, Adoração na igreja primitiva, da editora Vida Nova, é citado em parte do comentário de Hebreus 1.3 (que é um hino):






“É igualmente importante notar que os hinos a Cristo têm um padrão de pensamento em comum que confere o máximo valor a sua presença no cânon do Novo Testamento. Estão relacionados à pessoa e à missão de Cristo Jesus e nos contam como ele existia na glória preexistente de seu Pai e era o agente da Criação. Contam como ele se tornou homem e levou a efeito a redenção para o mundo mediante seu sofrimento e morte... No Segundo século, o historiador romano Plínio se refere aos cristãos da Bitínia que cantavam um hino a Cristo como Deus. Podemos crer que essa praxe remontava à igreja do Novo testamento.” Ou ainda neste mesmo livro “A igreja cristã nasceu em meio aos cânticos. A prova dessa declaração pode ser obtida seguindo diferentes caminhos. Em primeiro lugar, é de esperar o Evangelho cristão traga consigo para a cena da história uma explosão de hinos de louvor a Deus. Em segundo, podemos argumentar que todos os antecedentes do aparecimento da igreja primitiva no mundo do primeiro século nos levariam a esperar que ela fosse uma comunidade de cânticos e de hinos. E, em terceiro lugar, podemos examinar os livros do Novo Testamento, procurando descobrir neles a presença desses cânticos de adoração.”






As perguntas que ficam são, porque omitir tais fatos? Porque tentar afirmar que X ou Y hereges nos primeiros séculos promoviam suas heresias pela musica e que estes foram os “primeiros cristãos” a deixarem a Salmodia Exclusiva, e não citam que a igreja cantava os hinos à Cristo como relata a própria Bíblia? Ou porque não são imparciais como outros historiadores reformados e teólogos ortodoxos que apresentam tais fatos históricos?






Notemos o cuidado que devemos ter para não sermos partidários, facciosos, exclusivistas ou tendenciosos, busquemos olhar para a história com o maior número de informações e fatos possíveis, não tiremos nós conclusões precipitadas para não cairmos em erros e sermos enganados por nossa própria tendência subjetiva filosófica ou partido teológico, aceitemos o fato de que a história pode nos confrontar também com nossas práticas e pensamentos, afinal de contas, são 2.000 anos de cristianismo, e não dois séculos que devemos escolher segundo nossa preferência. SOLA SCRIPTURA!






CONSIDERAÇÕES FINAIS.






Espero sinceramente que essa palestra tenha deixado claro porque o conselho em prova da Igreja Reformada Congregacional defende a salmodia inclusiva, ou seja, o cântico de Salmos e hinos. Não estamos desobedecendo a nenhum mandamento bíblico para o cântico exclusivo dos Salmos, simplesmente porque esse mandamento não existe. Não estamos criando nada novo dentro do contexto das igrejas reformadas, vimos que Salmos e hinos acompanharam a igreja cristã ao longo de sua história, desde sua origem. Também não temos a presunção de que ao cantar os Salmos estamos cantando realmente o texto inspirado, pois isso não é verdade. Não há um consenso entre os estudiosos sobre quem afirmou que “nada que não seja inspirado por Deus não deve ter lugar no culto”, mas seja quem for o autor desta frase, deixou de levar em consideração a questão da metrificação.


Nós reconhecemos a necessidade de termos os Salmos parafraseados em nosso idioma, de modo que letra e música possam se harmonizar, cuidando-se apenas para que a música seja solene e reverente. Pretendemos louvar ao Senhor com os Salmos, prioritariamente, mas também com hinos. E queremos louvá-Lo de modo que enquanto O louvamos, também edificamo-nos mutuamente e evangelizamos os perdidos que estiverem entre nós, pois entenderão o que a igreja estiver cantando (I Co 14.9).


Finalmente, devo também exortar a igreja sobre o perigo da radicalidade e da intransigência (Atitudes muito comuns entre aqueles que defendem e praticam a salmodia exclusiva).


Em Lucas 9.49,50, o Senhor Jesus advertiu seus discípulos contra o orgulho, a presunção, a intolerância e a mesquinhez. João disse ao Senhor que haviam encontrado um homem expulsando demônios em Seu nome e o proibiram porque não O seguia junto com eles, e o Senhor imediatamente os censurou dizendo que não deveriam ter proibido.






Faço questão de registrar aqui o comentário do bispo J.C. Ryle sobre este texto:






“O comportamento de João e dos discípulos nesta ocasião é uma curiosa ilustração da singularidade da natureza humana em todas as épocas. Em cada período da História da Igreja, milhares de pessoas têm passado suas vidas seguindo este erro de João. Trabalham intensamente para impedir que sirvam a Cristo todos aqueles que não o fazem à maneira deles. Em sua mesquinha presunção, imaginam que ninguém pode ser um soldado de Cristo, se não vestir seu uniforme e lutar em seu regimento. Estão sempre dispostos a falar sobre todo crente que não vê as coisas como eles vêem: “proíbe-o, proíbe-o, porque não segue conosco”


A observação do nosso Senhor, nesta ocasião, exige consideração especial. Ele não expressou sua opinião sobre a conduta do homem a respeito do qual João Lhe falara. Não o elogiou, nem o acusou, por seguir independentemente e não trabalhar com seus discípulos. Apenas declarou que tal homem não deveria ser proibido e que as pessoas que fazem o mesmo tipo de obras que fazemos não devem ser consideradas inimigas, e sim aliadas: “Quem não é contra vós outros, é por vós.


A verdade é que estamos sempre dispostos a afirmar que somos “o povo”, e conosco “morrerá a sabedoria” (Jó 12.2). Esquecemos que nenhuma igreja na terra tem um absoluto monopólio da verdade e que outras podem estar corretas nas coisas essenciais, ainda que não concordem conosco. Devemos ser gratos, se o pecado está recebendo a devida oposição, o evangelho está sendo pregado, e o reino de Satanás está sendo derrubado, embora esta obra não esteja sendo realizada da maneira que gostaríamos. Temos de procurar acreditar que pessoas podem ser verdadeiros seguidores de Jesus e, apesar disso, por alguma razão sábia, serem impedidos de ver as coisas espirituais assim como nós as vemos. Acima de tudo, temos de louvar a Deus, se almas estão sendo convertidas e Cristo, magnificado, sem importar quem seja o pregador e a que igreja ele pertence. Felizes são aqueles que podem dizer, assim como Paulo: ”Que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado... também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” (Fp 1.18); e Moisés: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29). (Meditações no Evangelho de Lucas – Editora Fiel, Pgs. 157-159).






O Pr. Paulo Anglada também nos ensina a respeito da importância de não sermos intransigentes. Concluindo o seu texto sobre o princípio regulador do culto e, mantendo firme a perspectiva de que não podemos abrir mão dele, faz as seguintes considerações:






“Reconheço que o princípio regulador reformado não dirime todas as questões relacionadas ao culto. Mesmo a tradição reformada não é unânime, por exemplo, em relação a questões concernentes ao cântico de hinos ou somente de salmos no culto público e ao uso de orações litúrgicas (previamente compostas).


Além disso, mesmo que plenamente convencidos da ilegitimidade de práticas litúrgicas menos relevantes ou geralmente estabelecidas, convém uma palavra de prudência e paciência, para não virmos a comprometer questões maiores. Calvino, por exemplo, não concordava com a comemoração litúrgica do dia santo do natal. Entretanto, preferiu tolerar essa prática em Genebra, para não impedir o curso da Reforma. John Knox rejeitava a imposição anglicana do ato de ajoelhar-se para receber a comunhão, mas aconselhou a sua congregação em Berwick a tolerar a prática. E o puritano Thomas Cartwright, embora se opusesse ao uso de vestes clericais, considerou melhor usá-las do que ser obrigado a abandonar a sua vocação.” (A glória da Graça de Deus – Editora Fiel, pgs. 391,392).






Finalmente, gostaria de sugerir à igreja os princípios propostos pelo irmão Waldemir Magalhães Cruz, nas suas considerações sobre o livro “Salmodia Exclusiva – uma defesa bíblica” de Brian M. Schwertley:







1. Cantar necessariamente os Salmos;
2. Cantar hinos que sejam congregacionais e tenham um conteúdo estritamente bíblico;
3. Considerar como igrejas fiéis àquelas que adotam exclusivamente os Salmos e orar caso estas venham a considerar igrejas que não cantam os Salmos exclusivamente como infiéis.





Finalmente advirto sobre o perigo de algumas pessoas usarem a posição da Salmodia Exclusiva como um martelo para bater na cabeça das demais igrejas que não adotam tal posição. Também devemos ser vigilantes para que as investidas de Satanás não nos acometam a ponto de desprezarmos irmãos e igrejas simplesmente para estabelecer uma posição de algumas igrejas fiéis. Que as lições do Pr. Brian não sejam usadas de modo a causar contendas e divisões entre crentes e igrejas fiéis. Vamos labutar juntos para deixar bem estabelecidas as principais marcas das igrejas verdadeiras: pregação fiel, administração correta dos sacramentos e disciplina cristã. Tenho certeza que estabelecidas estas marcas, estaremos muito mais perto uns dos outros e mais preparados para a discussão de pontos fundamentais de forma mais amadurecida e mais edificante sem corrermos riscos desnecessários de sermos pedras de tropeço uns para os outros.”


(www.bandeiradagraça.org).


*(acréscimo nosso)






Sugiro a leitura do comentário de 1º Tim 3.16 de William Hendriksen, da editora Cultura Cristã, que tratará mais detalhadamente a questão da hinódia entre os irmãos da igreja primitiva.


E ainda, leitura de livros como do irmão Ralph P. Martin, Adoração na Igreja Primitiva, Ed. Vida Nova – vale a pena os estudos da história da igreja, e ver, não apenas em dois séculos que queridos irmãos fizeram nesta área, mas sim estudarmos os 2.000 anos da Igreja de Cristo.






....






APÊNDICE






O que vc prega e como vc prega quando está no pulpito?






A Palavra de Deus, de maneira expositiva, utilizando hermeneutica e exegese sérias, o método histórico-gramatical, etc. Resumindo, prego a Bíblia! (não simplesmente/somente as pregações que estão na Bíblia)






O que vc ora e como vc ora no culto?






Oro como o Senhor Jesus nos ensinou, utilizando de seus principios, buscando sempre orar na primeira pessoa do plural, pois o povo reunido, juntos estão oferecendo culto ao Deus do Pacto. Ou Seja, oro a Bíblia! (não simplesmente/somente as orações que estão na Bíblia)






O que vc canta e como vc canta no culto?






Canto congregacionalmente, salmos, hinos e canticos espirituais, assim como fizeram os cristãos primitivos, ou seja, canto a Bíblia! (não simplesmente/somente as canções que estão na Bíblia).






Se seguirmos a lógica dos defensores da Salmodia Exclusiva, ou seja, cantar apenas o Livro dos Salmos, deveriam também pregar somente as pregações contidas na própria Bíblia e orarem apenas as orações que se encontram na Escritura.






O culto deveria ser mais ou menos assim:






Orar por exemplo o que Elias orou pedindo fogo;


depois antar os Salmos;


depois pregar (ler) o sermão do monte.






Note queridos irmãos, que a questão não se trata simplesmente de silogismo ou de lógica, mas acima de tudo de exegese, e não há uma única referência para a exclusividade dos Salmos, que muitos também tentam defender como um parecer claro da CFW, o que não é, pois não se trata de cantar DOS SALMOS, mas salmos ou de salmos, com "s" minusculo, referindo-se tão somente à música sacra e não ao Livro. Outra questão mui interessante, é que ai pulam para o Diretório de Culto de Westminster, todavia, esquecem que o termo diretório significa "direção", uma base para que se tenha um culto bíblico e não um livro de ordem. O documento é Inglês, e os puritanos da inglaterra deram maior liberdade nesta área, ficando por conta de cada igreja local, todavia, com um enorme bom senso e prudencia para não irem além das Escrituras neste aspecto (liturgia). Resumindo, nem a CFW, nem o DCW e muito menos as Escrituras apresentam alguma referencia para o cantico exclusivo de Salmos.


  Autor : Pb. Rosivaldo Oliveira Sales, da Igreja Reformada Congregacional (Jundiaí-SP)!

Nenhum comentário:

Postar um comentário